Lembro nitidamente: nos anos setenta/oitenta, líamos artigos escritos por Galbraith, ou entrevistas que ele concedia a "n" publicações. Canadense, naturalizado americano, bamba em economia, irônico, bonachão, consultor de Roosevelt, depois amigo e conselheiro de Kennedy, propugnava o fortalecimento do Estado (mas sob estrita vigilância), até mesmo em face de o Estado haver sido o carro-chefe do New Deal, e vivia a remeter a atenção de seus interlocutores para a permanente ameaça representada pelas grandes corporações, capazes do possível, do impossível e do impensável na defesa de seus interesses (as grandes empresas da indústria de armamentos, por exemplo, espalharam seus tentáculos por vários estados, são grandes absorvedoras de mão-de-obra, e quando alguém fala em cortar gastos os parlamentares desses estados são os primeiros a ser pressionados - "Os empregos, deputado!" - ; de um lado, insufladores de guerras e preservadores de indústrias de armamentos, de outro, o Estado, submetido ao rolo compressor, gastando os tubos, alargando o déficit... Outro exemplo: os grandes bancos: o mundo inteiro está pagando e vai pagar muito ainda em razão dos crimes-continuados praticados impunemente por eles...).
Mas todo esse intróito tem tão-somente o singelo propósito de buscar na memória uma observação de Galbraith que à época me deixou "sem alcançar o espírito da coisa". Todo mundo falava em globalização, de modo que o entrevistador pediu a opinião dele sobre o tema. E Galbraith - para mim surpreendentemente - afirmou que a tal globalização não passava de invencionice americana, manobra muito bem urdida para engabelar os incautos e atender aos interesses ianques. Ou seja, ele foi direto, contundente, sem eufemismos: desancou de cara a tal globalização. Eu, simples cidadão terceiro-mundista, até vislumbrava algum mérito na idéia: os blocos econômicos, mediante o aprimoramento do sistema de trocas, notadamente tecnológicas, poderiam produzir bons frutos, pautados na boa fé e sem que cada um dos países abrisse mão de suas salvaguardas (mas estimulando, obviamente, a livre-iniciativa, o que é salutar).
O que Galbraith anteviu, penso, foi exatamente os danos a serem causados pela frouxidão das salvaguardas, já que os deslumbrados se deixaram levar pela onda, abrindo escancaradamente as comportas, inspirados em Chicago Boys de naipes diversos.
Galbraith vivo, certamente diria: "Voltemos ao espírito do New Deal, reformulado no que for imperioso. Afinal, como dizia o brasileiro José Américo de Almeida, ninguém se perde no caminho de volta".
A questão é que na vida na vida não podemos voltar. Da mesma maneira é na historia da humanidade. Temos que continuar nossa caminhada levando algumas coisas que seram uteis futuramente e jogando fora as tralhas que não nos serviram. Por exemplo: sabemos que o "deus mercado" não resolvi os problemas da humanidade, então joguemos fora. E que o Estado nos servira no futuro, por isso vamos cuidar dele.
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