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Pergunta meramente retórica, claro.
O grupo cristão “legendários” viralizou esta semana após a influenciadora e ex BBB Viih Tube compartilhar a tal experiência nos stories do Instagram.
O grupo, criado em 2015 por um pastor da Guatemala, já tem no Brasil seu segundo maior público do mundo, e é definido pelo fundador como “movimento que tem por objetivo transformar a vida de homens, famílias e comunidades”.
Como o “movimento” faz isso?
Cobrando até 81 mil reais por “experiências que levam o participante a alcançar sua melhor versão e fortalecer sua fé em Jesus Cristo.
”Sim, um grupo coach fundamentalista, tudo que a sociedade contemporânea precisava, ou: mais uma aberração atualíssima produzida no capitalismo patriarcal.
As experiências incluem trilhas de até 72 horas e outros desafios, como jejum prolongado, obediência cega aos líderes (como em quase toda igreja, né?) e dinâmicas emocionais pra lá de esquisitas.
O principal “desafio” proposto pelo grupo se chama “Track Outdoor de Potencial” (TOP), e é comercializado como um caminho de transformação física, emocional e espiritual.
Você tem que ser muito medíocre pra acreditar que precisa impor a si mesmo punições pra expurgar seus pecados, e muito iludida pra crer que pagar alguns milhares de reais te trará o bom marido que você não soube escolher.
Sim, porque são, geralmente, as mulheres que “enviam” os maridos ao grupo, muitas vezes depois de eles terem feito alguma merda grande (frequentemente traição ou agressão) –; gente, não é mais fácil e mais barato simplesmente tomar vergonha na cara?
Em outras palavras, essas mulheres compram os maridos na planta e enviam pra reforma evangélica – homem virtuoso, quem o achará?
Se você precisa pagar pra “fortalecer a sua fé em Jesus Cristo”, há algo de muito errado com a sua fé, e se você precisa que o seu marido vá a um retiro evangélico (e pague por ele) pra se tornar um bom marido, você simplesmente se casou mal – e se você não sabe escolher homem, amada, o problema não é de Deus.
Os evangélicos – ou a maioria deles – negam que os legendários tenham origem cristã, e querem separar a própria reputação da ideia vendida pelo grupo, que eu chamaria tranquilamente de empresa, mas, a gente sabe: essa coisa de impor sacrifícios ao outro e cobrar por isso sob a promessa de evolução espiritual e vida eterna é bem a praia dos crentes. Como eles dizem? “Orai e Jejuai.”
Além do mais, o movimento é sabidamente cristão, fundado por um pastor cristão, segundo os preceitos cristãos – e nada é mais cristão que isso, mas eu particularmente entendo qualquer um que deseje desassociar a própria imagem dos legendários, um movimento, antes de tudo, ridículo.Para além disso, a verdade é que o contato com Deus (e não apenas com o Deus cristão, vale ressaltar), alcançou o nível máximo de mercantilização: a comercialização da experiencia espiritual – embora bastante comum desde as igrejas evangélicas aos xamãs charlatões – só é possível em uma realidade totalmente desconectada do mundo espiritual, e se baseia na crença de que a indulgência tem um preço pago em dinheiro.
Seria fácil demais pagar pra apagar as merdas do seu passado – como têm tentado o Neymar Pai, Eliezer (marido de Viih Tube) e Thiago Nigro, por exemplo – mas receio que “se tornar a sua melhor versão” exija um pouco mais do que isso.
Todos os legendários famosos confirmam isso: Thiago Nigro, casado com Maíra Cardy, coitada, que foi traída dezenas de vezes pelo ex e dessa vez resolveu garantir – melhor pagar pra evitar chifre – é um coach que pega carona no sucesso da mulher e está mais do que certo em se submeter a esse tipo de palhaçada pra ser impulsionado por ela.
Já Viih Tube catou um cara do BBB que ficou com duas na edição (e saiu falando mal de ambas), engravidou do sujeito e agora quer transformá-lo em um homem decente – mesmo que isso lhe custe alguns milhares de reais.
O “legendários” é, enfim, apenas um movimento de coach fundamentalista pra tirar dinheiro de otário (e de otária), sob a promessa de elevação espiritual, o que sempre fizeram as igrejas evangélicas, só que agora com um toque de coach que deixa tudo mais patético.
Não é problema meu que homem conservador – sobretudo, crente – suba montanha e faça jejum acreditando que isso o transformará em alguém melhor.
Lamento apenas pelas mulheres que pagam por isso, como se um bom marido pudesse ser vendido na igreja da esquina.
Reformar homem é meio caro, quem sabe um dia elas aprendem com as feministas a já comprarem prontos. - (DCM - Aqui).