terça-feira, 1 de janeiro de 2019

SOBRE O NOVO PRESIDENTE


"Enfim, Jair Messias Bolsonaro sobe a rampa nesta terça-feira (1°) para receber a faixa presidencial.

Carrega uma autoconfiança e um desdém com o contraditório poucas vezes vistos. A parentada se esbalda em exibir camisetas com recadinhos para a malta e em congestionar as redes sociais com toda a sorte de regras sobre como estão certos e sobre como são a redenção para tudo isso que está aí. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos e eles acima do Brasil, de Deus e de todos.

Veja a promessa de facilitar a posse de armas para o “cidadão de bem”. Você já deve ter calo nos ouvidos de tanto escutar policiais recomendarem não reagir a assaltos. O bandido tem a seu favor o elemento surpresa, a prática. E sua vida sempre vale mais do que qualquer bem material.

Mas os Rambos de botequim não estão preocupados com estudos, lógica, racionalidade, essas besteiras.
Enxergam-se como um Lee Van Cleef de barriga avantajada e pantufas a acertar testas de malandros, todos lerdos e ruins de mira, em um desempenho que policiais treinados muitas vezes não conseguiram ter.
E não vamos falar aqui de brigas com vizinho, violência doméstica, disparos acidentais ou de crianças e adolescentes fuçando o armário. Não, vamos tentar entender o que define um cidadão de bem apto a se armar. Para bolsonaristas, quem não tem antecedente criminal, ora bolas.

Como o cidadão de bem que entrou no último dia 11 em uma igreja em Campinas e meteu chumbo em quem estava ao redor. Ou o cidadão de bem, sem antecedentes, que disparou em 2011 mais de 60 vezes em uma escola do Rio, matando 12 adolescentes. Ou estariam eles se referindo aos cidadãos de bem que cometeram mais de 2.000 feminicídios no país, em 2016 e 2017, muitos sem nem unzinho antecedente criminal?

Os Bolsonaros sobem a rampa com a mão no coldre e de salto alto. Com soberba e ouvidos moucos a críticas. Como realizaram o milagre de vencer a eleição contra todos os prognósticos, parecem não ter dúvida de que irão acertar o alvo outra vez."





(De Rainier Bragon, artigo intitulado "Bolsonaro sobe a rampa com a mão no coldre e de salto 15", publicado na edição de hoje, 1º de janeiro, da Folha, reproduzido no blog Tijolaçoaqui. 

A cerimônia de posse do presidente mobilizou muitos brasileiros, mas, ao que informa a imprensa, os 115 mil que teriam comparecido à Esplanada ficaram a milhas dos 500 mil esperados [segundo dias antes divulgara a própria imprensa]. Não obstante, foi um número expressivo. Entre os pontos que teriam marcado a posse - da qual só vimos pequenos trechos -, o discurso em sinais da mulher do presidente, a ovação ao superministro ex-juiz [mas essa seria mais do que óbvia!!], as precárias condições a que foram submetidos os jornalistas incumbidos da cobertura e o fato de em seu discurso Bolsonaro haver desancado o 'socialismo' [quanto a isso, se o empossado teve como foco crítico os programas sociais implementados nos governos petistas - e teve, claro -, estamos todos à beira do pior dos mundos, o que também não causará surpresa, conforme, aliás, analistas como Mário Vitor - aqui - anteciparam]. Reflexões valiosas certamente serão oferecidas pelos observadores que viram a íntegra da solenidade e sacam da arte de ler nas entrelinhas).

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