quarta-feira, 31 de outubro de 2018

BRANCO SAI, PRETO FICA


Em "Branco Sai, Preto Fica", o tempo brasileiro é o eterno retorno 

Por Wilson Ferreira

Em 1986 policiais invadem um baile funk em Ceilândia, cidade-satélite de Brasília, ferindo física e psiquicamente dois homens. Em 2014, um terceiro homem vem do futuro à procura de evidências que ajudem um movimento identitário negro mover uma ação contra o Estado pelos danos daqueles homens no passado. “Branco Sai, Preto Fica” (2014) de Adirley Queirós é uma ousada experimentação em um gênero pouco visitado pelo cinema brasileiro – o filme consegue construir uma espécie de “meta docudrama sci-fi”. Com sua desolação, frieza e aridez, Brasília deixou de ser a utopia modernista de uma possível civilização brasileira para se transformar na perfeita cenografia de filmes distópicos, com uma vantagem: não é preciso computação gráfica. No país do futuro, o tempo é um eterno retorno: se o presente é um apartheid social, o futuro não deixa por menos – a “Vanguarda Cristã” tomou o poder e ameaça o sucesso das investigações. Filme sugerido pelo nosso leitor Paulo Pê.
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Marco vanguardista do que seria o símbolo das raízes da civilização brasileira, Brasília tornou-se na verdade um marco distópico. A cinematografia que envolve a capital do Brasil já é extensa, na maioria das vezes protagonizada por personagens que se sentem estrangeiros, alienados e estranhos em um lugar com cenário quase extraterrestre pela frieza e aridez. Algo como o fim da utopia modernista na qual o otimismo do progresso cedeu lugar ao concreto e monumentalidade que parecem aprisionar o indivíduo.  

Insolação (2009, o amor e desencontros na condição humana de exílio e prisão), Era uma Vez em Brasília (2016, um prisioneiro intergaláctico é enviado no tempo para matar Juscelino Kubitschek no dia da inauguração de Brasília), O Fim e os Meios (2015, um publicitário carioca vai fazer o marketing de um candidato e conhecerá os bastidores políticos da cidade) ou os vários documentários ou filmes inspirados no rock punk de Brasília (Somos tão Jovens, Faroeste Caboclo etc.) sobre uma geração de jovens estrangeiros em uma terra sem raiz.

Branco Sai, Preto Fica (2014), do diretor Adirley Queirós, lança um novo personagem nessa distopia sci-fi em que se transformou a utopia modernista de Brasília: o Detetive.

Em postagem anterior, discutíamos que a subjetividade pós-moderna pode ser sintetizada cinematograficamente em três tipos de personagens: o Viajante (a jornada espiritual), o Estrangeiro (aquele que se sente estranho em sua própria família, cidade ou país) e o Detetive (envolvido em mistérios e conspirações que, no final, voltam-se contra ele próprio) – clique aqui.

Um homem vem do futuro com o propósito de encontrar provas de que um incidente ocorrido em um baile de música black em 1986 foi um atentado racista – o título refere-se à ordem que um soldado deu no momento de uma batida policial que resultou em danos físicos e psíquicos irreversíveis para dois personagens: um ficou paraplégico, e outro perdeu uma perna.


Provas são necessárias para que no futuro movimentos identitários negros consigam processar o Estado. Mas também no futuro, as coisas não vão bem: o Estado foi tomado por um grupo de extrema-direita religiosa chamado “Vanguarda Cristã”...

Branco Sai, Preto Fica é mais um filme de uma longa tradição de filmes sci-fi iniciada pelo clássico francês de viagem no tempo de Chris Maker La  Jetée (1962) ou do iraniano Taboor (2012) – filmes de baixíssimo orçamento, cujos efeitos especiais (cânones do gênero) são criados com recursos simples como montagem, edição, fotos e desenhos.

Paisagem de desolação


E Brasília, assim como as cidades satélites ao redor como Ceilândia, não precisa de computação gráfica para se tornar ficção científica: sua própria paisagem de desolação com horizontes recortados tanto por prédios futuristas quanto por favelas, lajes e escadarias que se sobrepõem já lhe conferem uma atmosfera distópica – algo como um “favela sci-fi”.

É um filme experimental e como uma narrativa inventiva, um mix de documentário, drama político e ficção científica. Fotos e recortes de jornal do episódio de repressão policial e racismo em 1987 nos mostram que Adirley Queirós partiu de um evento real para construir uma distopia brasileira sem saídas ou esperança: se no presente o sonho de Brasília de planejamento urbano se transformou em apartheid social, o detetive vem de um futuro cujo País ainda não foi redimido.


Na busca por evidências que comprovem o racismo policial, o detetive do futuro (algo que lembra alguma coisa entre Terminator e Repo Man) vê-se prisioneiro no tempo e no espaço: não pode retornar ao seu tempo devido a mais um golpe político brasileiro. E está condenado a ser um Estrangeiro num lugar ao qual não pertence – quem sabe, uma metáfora do eterno retorno nacional.

O Filme


Branco Sai, Preto Fica é um filme temporalmente claustrofóbico: simplesmente não há saídas para ninguém – no presente temos personagens que habitam uma cidade (Ceilândia) politicamente marginalizada cuja entrada e saída é controlada por passaporte; e no futuro, um regime político religioso tomou o poder. E no meio dessas polaridades, o hip-hop como a narrativa oral da marginalização e militantes de lutas sociais do futuro.

O filme inicia como um documentário, no qual o paraplégico Marquim do Tropa (interpretando ele próprio) narra ao som da base do hip-hop a invasão policial de 1987, no estúdio da sua rádio pirata. Também acompanhamos o cotidiano de outro sobrevivente dessa tragédia: Sartana (Irineu) – acompanhamos a manutenção da sua perna mecânica enquanto ensina outros deficientes a lidar com suas próteses.

Do docudrama, cortamos imediatamente para o elemento sci-fi: Dimas (Dimas Durães) chega do futuro no interior de uma espécie de container (recurso baixo orçamento do diretor) em cujas paredes vai pendurando recortes de jornais da época, tentando reconstituir a tragédia daquele baile funk.

O detetive parece ser um brasileiro prototípico: na viagem pelo tempo perdeu dinheiro, cartão de crédito e documento de identidade. Ela está “fudido”, como se reporta, através  de um comunicador tosco, com o futuro. De onde vêm notícias politicamente nada animadoras – Dimas decide apenas enviar as provas do futuro processo (ele precisa fazer um vídeo com depoimentos de Sartana e Marquim) e não mais retornar.


O filme acumula sequências memoráveis e simbólicas: Sartana em seu depósito de pilhas de pernas mecânicas e próteses variadas como uma espécie de ferro-velho humano; um conjunto de tecno brega que toca música com timidez; a paisagem desolada de Ceilândia na qual, em um espaço aberto e empoeirado, repousa o container do viajante do tempo; a casa de Marquim cujos tubos de neon iluminam estreitas e intrincadas passagens e elevadores para a cadeira de rodas; e a constante pontuação de fotografias do fatídico baile funk mostrando como os protagonistas eram (jovens e cheios de esperanças), contrastando com a melancolia e alienação do presente.

Bomba musical – alerta de spoilers à frente


Em todo o filme, as narrativas do detetive Dimas e das vítimas Sartana e Marquim não se encontram – enquanto Dimas investiga os recortes de jornal em sua caixa de metal e caminha através das desoladas ruas de Ceilândia, Marquim articula um plano com um produtor musical: em troca de passaportes que o ajudem a sair da cidade, o produtor ajuda Marquim a criar literalmente uma “música-bomba”. Uma bomba eletromagnética cujo conteúdo parece ser um pout pourri de hip-hop e tecnobrega (a inacreditável “Dança do Jumento”).

Um petardo eletrônico que será disparado diretamente da sua rádio pirata para atingir Brasília. Mais especificamente, o prédio do Congresso Nacional.


Esses padrões, argumentos e premissas apresentadas (uma espécie de meta  docudrama sci fi) são criativos e cheios de promessas para o espectador. Porém, o filme vai aos poucos perdendo o foco narrativo – simplesmente, a investigação do detetive do futuro e a bomba musical construída por Marquim e Sartana não se encontram. Correm como estórias paralelas com um desfecho rápido e frouxo. E até anticlimático.

Mesmo assim, a incursão de Adirley Queirós em um gênero pouco visitado pelo cinema brasileiro é bem vinda. Principalmente pela pretensão híbrido narrativa em criar um nível meta entre o documentário e a ficção científica.

Como todo filme é um documento de época, com Branco Sai, Preto Fica não poderia ser diferente: a produção reflete o cenário político com as manifestações nas ruas, iniciadas com as “Jornadas de Junho” em 2013 – o descrédito com a Política e a depreciação da imagem dos políticos. Afinal, a bomba musical será apontada diretamente para o Congresso Nacional e não para o Banco Central ou Palácio do Planalto.

A narrativa é marcada por reflexões sociológicas e políticas a respeito do controle do Estado e da mídia. Principalmente das forças repressivas do exército e da polícia. Mas ironicamente, no final, Adirley Queirós replicou os mesmos clichês das bombas semióticas lançadas pela grande mídia naquele momento: a deliberada depreciação da Política como maneira de desestabilização político-econômica que preparou terreno para o futuro impeachment de 2016.  -  (Fonte: Cinegnose - AQUI).


Ficha Técnica 

Título:  Branco Sai, Preto Fica
Diretor: Adirley Queirós
Roteiro: Adirley Queirós
Elenco:  Marquim do Tropa, Dilmar Guimarães, Gleide Firmino
Produção: Cinco da Norte
Distribuição: Cinco da Norte
Ano: 2014
País: Brasil

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O MUNDO SURREAL DAS IDEIAS


- Engenhosa.

- O quê?

- A ideia da equipe vitoriosa de destinar as sobras da campanha para o hospital de Juiz de Fora que salvou a vida do presidente eleito após o inominável atentado de 6 de setembro.

- Permita-me questionar. Eu classificaria o gesto como fruto da gratidão e do reconhecimento, nunca de ideia engenhosa, tão somente.

- Claro, concordo. É que eu pensei em outra coisa.

- Como assim?

- Você sabe que estão em curso investigações sobre eventual crime eleitoral de abuso de poder econômico da equipe vitoriosa em face da contratação, por empresários simpatizantes e a peso de ouro, de empresas especializadas na disseminação de notícias falsas pelo WhatsApp, conforme denúncias submetidas ao Tribunal Superior Eleitoral por partidos políticos adversários.

- E daí?

- Bom, imagine que lá na frente surja o risco de acontecer uma hecatombe judicial contra a chapa vitoriosa. Bastará dizer que a equipe nada teve a ver com o alegado abuso de poder econômico, que tudo poderia ter sido fruto da imaginação dos tais empresários e do próprio WhatsApp, à revelia da equipe vitoriosa, que, por sinal, nem sequer gastou integralmente a modesta verba eleitoral oficial - havendo até anunciado a intenção de doar as sobras financeiras para a Santa Casa de Juiz de Fora, COMO O BRASIL INTEIRO TOMOU CONHECIMENTO LOGO APÓS A VITÓRIA! 

- Engenhosa ideia, concordo!

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(AQUI: Mauro Lopes e José Reinaldo Carvalho discutem questões internas e relações internacionais do Brasil). 

VEM AÍ O ESCOLA SEM PARTIDO

(Como diz AQUI - a partir do 18º minuto - o professor Djalma Neris, de São Paulo, 
mais apropriado seria chamar o 'Escola Sem Partido' de 'Escola Sem Senso Crítico').

Duke.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018: ECOS DOS ÂNIMOS EXACERBADOS (E A PAZ DO PÂNTANO)

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A política é um terreno prenhe de armadilhas. Exige engenho, arte e muita, muita reflexão (melhor seria dizer meditação), além da consciência das qualidades e fragilidades da natureza humana. Exige que se conheça a diferença entre firmeza de ideias e propósitos e radicalismo. Enfim, impõe a todos o dever de proceder democraticamente desde a concepção e exposição das ideias até o momento de, alcançado o êxito, partir para a sua implementação. Sob pena de, sob o embalo insistente de Fake News ensandecidas, se fecharem portas e janelas. É batata: toda vez que se investe em estratégias e táticas fora da curva, o desastre ameaça apontar no horizonte.
Dica de leitura: Clique AQUI: 'Seguidores de Bolsonaro divulgam lista e pedem boicote a celebridades'.
Enquanto isso...


Internautas reagem à campanha pacificadora pró-Bolsonaro

No GGN: Desde que Jair Bolsonaro foi declarado presidente eleito, no domingo (28), circulam pelas redes sociais imagens e textos que tentam apaziguar os ânimos entre vencedores e derrotados e jogar panos quentes nas polêmicas decorrentes de discursos de ódio proferidos pelo deputado de extrema direita.

As mensagens também tentam abafar ou ridicularizar os eleitores que se declararam parte do movimento de "resistência" a eventuais ações do governo Bolsonaro que possam ir de encontro a direitos adquiridos. 

Há textos que afirmam que os brasileiros interessados no bem comum devem, agora, reconhecer a derrota, esquecer as brigas, apoiar a união e desejar o melhor para o País sob Bolsonaro. Alguns também dizem que ele não tem culpa pela violência praticada por seus seguidores.

Em resposta a essa onda pacificadora, internautas criaram uma conta no Instagram (@mesa17oficial) para documentar as declarações de Bolsonaro que afrontam a liberdade de expressão e ameaçam minorias formadas principalmente por negros, mulheres e homossexuais.

O objetivo é não deixar que os apoiadores de Bolsonaro apaguem ou deturpem as violações praticadas em nome do presidente eleito. "Não esqueceremos!", diz a descrição.

Além dos ataques feitos diretamente pelo capitão da reserva, a conta também registra episódios de violência e discriminação praticados pelos seus entusiastas.

O acervo contém, por exemplo, casos recentes de discurso de ódio e racismo, como o do estudante da Universidade Mackenzie, que afirmou que a "negraiada" iria morrer com Bolsonaro eleito, além de ameaçar matar "petistas". Há também a eleitora de Bolsonaro que fantasiou o filho menor de idade de "escravo", para participar da festa de Halloween da escola. O episódio ocorreu um dia após a definição do segundo turno.  

DA SÉRIE TEXTOS PRODUZIDOS ANTES DO SEGUNDO TURNO

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Nota prévia: 
O leitor Luís Henrique Donadio Baptista esclarece: "Desculpa aí, mas Nêmesis não é o nome romano de Hybris. Hybris é o estado de quem se acha igual aos deuses, o orgulho desmedido, a falta de noção das próprias limitações. Nêmesis é a deusa que castiga esse tipo de pecado.". Ao que Carlos Viegas, autor da crônica abaixo, confessa: "Caro Luis Henrique, você está correto. E, como podemos ver, a coisa funciona. Essa é a nêmesis do articulista...". Por essa e por outas é que dizemos: É sempre bom reservarmos um tempo para dar uma conferida nos comentários. Posto isto, ao texto, que expressa a avaliação de Carlos Eduardo Viegas sobre o fenômeno Bolsonaro, candidato favorito à presidência da República:


A nêmesis de Jair Bolsonaro 

Por Carlos Eduardo Viegas

Na antiguidade clássica, grega ou romana, uma das divindades mais temidas era conhecida como Nêmesis (entre os romanos) ou Hybris (entre os gregos). Não era para menos. Essa divindade punia os maridos infiéis, as esposas abandonadas, os arrogantes, os muito poderosos, todos aqueles que no delírio do sucesso conquistado, da gloria, da fama, imaginassem serem iguais ou semelhantes aos deuses. Desde então, o significado dessa ideia, um conceito representado por um mito (ops!) foi apropriado pelos filósofos, historiadores e cronistas políticos, desde a Idade Média, que a utilizaram para refletir sobre a sociedade ocidental, notadamente sobre os grandes eventos políticos que a moldaram. 

Assim Isaac Deustcher, em uma passagem brilhante de sua biografia sobre Trotsky, escreve que no momento mesmo que a Revolução Bolchevique comemorava seu triunfo, em outubro de 1917, a sua nêmesis (Stalin) andava pelos corredores do Palácio de Inverno, que acabava de ser tomado. Os exemplos se multiplicam, na Revolução Francesa, à fúria dos jacobinos republicanos e revolucionários seguiu-se o Imperador Napoleão. No Brasil, talvez o autocrático e sanguinário Médici possa ser a nêmesis dos “revolucionários” de 1964 de Castello Branco, seu líder liberal. Talvez.
A modéstia, a prudência e o comedimento certamente não são virtudes que se possa atribuir ao capitão Jair Bolsonaro e, ainda mais, seus excessos retóricos parecem estar na iminência de serem premiados com uma grande vitória eleitoral. Como, então, poderíamos tentar imaginar os elementos que poderiam formar a sua nêmesis? Antes de tudo temos que compreender que a nêmesis ou hybris dos vencedores delirantes não é uma “vingança” de seus opositores. Ela não é algo que venha “de fora” das ações do imprudente e insolente. Ela é gerada por dentro de suas ações, através de suas ações. Vejamos isso mais de perto.
Se o capitão fosse um homem temente aos deuses antigos (mas sua condição de evangélico o impede de respeitar as crenças do pré-cristianismo) ele talvez pudesse seguir o exemplo dos Césares, os quais em suas procissões triunfais tinham ao seu lado um sacerdote o qual, o tempo todo que durasse o desfile do Triunfo, pelas ruas de Roma, lhe dizia aos ouvidos: “não te esqueças de que és um mortal”. No caso do nosso capitão, se chegar ao desfile triunfal do Dia da Posse, em Brasília, e ele temesse os deuses, talvez pedisse ao seu ajudante de ordens que lhe repetisse incessantemente nos ouvidos: “não te esqueças de que és um capitão”. Por quê?
Bem, os paisanos não entendem os militares. Mas os militares, que por ventura lerem essas linhas, entenderão prontamente a ironia acima.
Os estudiosos da sociologia das profissões nos ensinam que a profissão militar (assim como a do sacerdócio) é uma “profissão total”, o que significa que a vida do militar transcorre por completo, dentro de uma instituição, que, por assim dizer, o segrega da vida civil. O “ethos” militar, seu garbo marcial, a busca da glória em combate, a camaradagem desde os tempos do Colégio Militar, a carreira duramente construída degrau a degrau ao longo de muitos anos, o cumprimento honroso das missões, e tantos outros fatores, moldam o militar (agora, “a” militar, também) de forma tal que não existe um “lado de fora” na sua existência. Um oficial militar, mesmo em trajes civis, nunca será um simples “paisano”. Exemplo: numa família militar, num almoço dominical, o filho tenente não se senta à mesa familiar antes de pedir permissão ao seu pai coronel. Respeito filial e profissional. Uma rainha da beleza aos vinte anos, ainda será majestade aos quarenta. Um general de quatro estrelas, ainda que já “reformado”, receberá de seu camarada na ativa a saudação da continência, que é devida ao posto e não ao homem. Só mesmo os paisanos duvidarão disso...
Assim, procede muito mal o capitão Jair Bolsonaro ao insistir, como elemento central de propaganda eleitoral, que foi um capitão do exército brasileiro. Os paisanos entenderão isso de uma maneira, os oficiais militares entenderão à sua maneira. Jair Bolsonaro foi um capitão, e continuará sendo um capitão para sempre aos olhos de seus camaradas militares com patente superior, principalmente de Tenente-Coronel para cima, ainda que em público e por conveniência do momento político, neguem isso. Pior: é um ex-oficial que deixou a Força em circunstâncias, digamos, problemáticas. No meio militar, certas coisas não se esquecem jamais. Prova disso é que a Marinha do Brasil nunca perdoou os amotinados da Revolta da Chibata, mesmo já decorrido um século. Posto, patentes, os registros da “folha de oficial”, para o bem ou para o mal, são para sempre. Pelo que se sabe, o histórico militar do capitão Bolsonaro não o recomenda à tropa, como exemplo a ser seguido.
Outro aspecto das “profissões totais” é que o individuo representa todo o coletivo. Se um padre católico dá sua vida para salvar a vida de um judeu, condenado a morrer num campo de concentração, toda a Igreja é santificada. Se um padre católico é condenado por pedofilia, toda a Igreja é amaldiçoada. Então tudo aquilo que o capitão, convertido em Presidente da República, fizer de bom, poderá ser acrescido aos ativos do Exército Brasileiro. Porém, tudo aquilo que fizer e for reprovável, ou desastroso, ou meramente hilário, também será acrescido ao passivo da Força. Mais uma coisa: as Forças (o Exército, a Marinha e a Aeronáutica) competem entre si em muitos sentidos, e usualmente, não “compram” os débitos alheios. Conheço um relato sobre a esposa de um general que diante da evidente infidelidade do marido (da arma da Cavalaria) dizia que “isso é próprio de gente da estrebaria”. E dizia que tinha orgulho de pertencer a uma família de gente da Marinha, gente nobre, que usa farda branca, aristocratas, incapazes dessas vilezas de cavalariços. Resta saber, no caso de um hipotético desastre do governo bolsonarista, se as “outras” Forças irão “comprar o passivo” do colega de verde.
Por isso tudo, se capitão Bolsonaro fosse um homem mais prudente, não colocaria em relevo a sua condição de “ex”, porque se necessidades se impuserem no futuro que o aguarda, os seus camaradas poderão fazê-lo recordar que ele é apenas, e tão somente apenas, “um capitão”. Como tal, estará proibido de expor ao ridículo, descrédito, zombaria de whatsapp, etc. a Força que – sempre – representará. Em caso extremo ou, no mais extremo das coisas, se tudo desandar para desilusões tão grandes quanto a sua atual maioria eleitoral, Mourão, legitimo vice-presidente, general-de-exército, quatro estrelas nos ombros, estará pronto para cumprir a missão. O argumento aqui é que a nêmesis não começa depois do triunfo. A nêmesis está dentro do triunfo, faz parte dele. Os militares de alta patente conhecem, melhor que qualquer paisano, o capitão Jair Bolsonaro e suas idiossincrasias. Assim, é muito provável que certos “planos de contingência” já estejam sendo traçados. Afinal, o que faz um Estado-Maior senão Planos de Contingência, para o que der e vier?
Hora de mencionar Jânio da Silva Quadros, porque as comparações podem ser úteis. Um certo autor alemão do século XIX – cujo nome não consigo recordar, o que não importa, pois, sendo alemão e antigo, certamente é obsoleto (?! - sinais inseridos por este blog. Para em seguida notar a ironia relativamente a Marx] –, certa vez escreveu que sempre que as sociedades se deparam com eventos surpreendentes, inesperados, se valem do passado para explicar o presente. Essa é uma observação muito pertinente ao caso, pois estamos nos valendo do pitoresco Jânio para compreender o não menos pitoresco Bolsonaro. Assim, parece que os fatos da história ocorrem duas vezes, e o autor alemão adicionou que a primeira vez seria como uma tragédia, a segunda como uma farsa. Nesse nosso Brasil, empreendedor, e pós-moderno, pode ser que nossa história produza uma inovação a qual consistiria em inverter os termos do “dictum” alemão: Em 1961 houve uma farsa e em 2019, ou logo depois (quem sabe?), pode haver uma tragédia.
Os perfis psicológicos de Jânio Quadros e de Jair Bolsonaro guardam muitas semelhanças, daí a comparação, e não parece ser necessário apresentar os detalhes para explicar essa observação: os livros de história estão aí para isso. Em 1961 ocorreu a farsa janista de uma renúncia à Presidência da República que – assim é possível se supor - tentava reproduzir no Brasil o sucesso popular do golpe do presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, o qual, contrariado em seus propósitos políticos pelo parlamento, renunciou, para ser carregado por seus apoiadores, de volta palácio adentro, mas agora como ditador. Jânio Quadros, atribuiu sua renúncia a “forças terríveis” que o impediam de governar. Com o fracasso de sua farsa golpista teve a sua nêmesis política, foi cassado pela ditadura militar e retornou, muito tempo depois, com um papel secundário na política nacional. Ainda assim conseguiu se eleger Prefeito de São Paulo, o que demonstra que o pitoresco tem seu lugar na Política.
Como o jornalista Luis Nassif escreveu essa semana, um suposto governo bolsonarista será caracterizado pela “mediocridade absoluta de Bolsonaro para mediar os conflitos internos de seu governo, [e] se seguirá um período de profundas turbulências”. Se Bolsonaro fracassa (coisa muito provável) o que poderá se seguir? Talvez, “forças terríveis” se coloquem em ação para salvar seu programa neofascista, e para isso poderá ser contido, tutelado ou até afastado (a conferir nos “Planos de Contingência”...) e nesse sentido três elementos já estariam à disposição das “forças terríveis” da atualidade: primeiro, o Artigo 136 da Constituição de 1988, que dispõe sobre o Estado de Defesa e Estado de Sítio e, portanto, autoriza medidas muito severas de restrição das liberdades individuais sem que se possa dizer que houve uma ruptura institucional; segundo, o vice-presidente é um general de exército, criado e vivido para obedecer e fazer acontecer; e por fim o “modus operandi”: todos os manuais de implementação (assim como a tropa especializada, com sede em Campinas-SP) da Doutrina da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), a qual confere o arsenal ideológico para tipificação do “adversário” e como lidar com ele.
A política brasileira, até aqui já produziu dois demagogos: Jânio Quadros e Jair Bolsonaro. Dois sucessos eleitorais. A nêmesis do primeiro foi sua renúncia, que na verdade era uma farsa. A nêmesis do segundo ainda está por se conferir. Mas poderá resultar numa tragédia.  -  (Aqui).
(Carlos Eduardo Viegas - professor na USP, campus de Pirassununga-SP).

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

CERTAS PALAVRAS


Vimos no GGN: Fernando Haddad (PT) enviou pelo Twitter seu desejo de sucesso ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), e a reação do capitão da reserva foi igualmente pública. Numa frase ambígua, que críticos entenderam como debochada, Bolsonaro disse: "Realmente, o Brasil merece o melhor."
Na noite de domingo (28), Haddad não ligou para Bolsonaro. A imprensa divulgou que o petista teria dito aos aliados mais próximos que decidiu não fazê-lo porque foi atacado pelo deputado de extrema direita ao longo de toda a campanha. Na véspera do segundo turno, os militantes pró-Bolsonaro espalharam nas redes sociais a notícia falsa de que Haddad teria sido acusado de estupro de menor.
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Em geral, certas palavras têm de ser medidas e contextualizadas, pois o que resultar escrito deve expressar a exata intenção do emissor, sem margem a distorções por parte do receptor. Como se vê, porém, em se tratando de inimigos confessos e tacanhos, impõem-se cautelas ainda mais rigorosas.

DIAGNÓSTICO DAS ELEIÇÕES 2018: A ONDA MUDANCISTA E OUTRAS ONDAS


"A principal característica das eleições de 2018 foi a onda mudancista de natureza antissistêmica ou contrária ao sistema político-partidário vigente estabelecido no início da década de 1990. Na maior parte do tempo, esse sistema arruinado pelas eleições tinha a marca da polarização PT-PSDB. Essa marca se desfez no plano nacional mas, ao menos nesse nível, o PT permaneceu nela como antagonista do pólo de extrema-direita. A onda mudancista levou o Brasil para a direita, não porque a maioria dos eleitores são de direita, mas porque os candidatos de direita representavam melhor a ideia de uma oposição antissistêmica, a ideia de uma varredura dos partidos e dos políticos tradicionais. Mas, sem dúvida, desde 2013 vem se constituindo uma extrema-direita política, que se fortaleceu no golpe e, agora, chega ao poder.

A onda mudancista de natureza antissistêmica foi consequência da profunda crise política, econômica, social moral que atingiu o sistema político e os partidos que dele faziam parte como protagonistas desde a Constituição de 1988. O PT, mesmo tendo sido tirado do poder por um golpe, fazia parte desse sistema, tendo governando o país por 13 anos e alguns meses. Em boa medida, tanto no primeiro quanto no segundo turno, foi apontado como o principal responsável pela crise do sistema.
Em que pese ter sofrido uma dura derrota, o PT, contudo, não saiu destruído. Duas razões foram determinantes para que isto não ocorresse: a herança positiva dos governos Lula e o fracasso retumbante do governo golpista de Michel Temer. Como o governo sempre é o ponto de referência principal numa disputa eleitoral, o PT também se apresentou como força de mudança das eleições, mas como, em boa medida, o contexto político do presente tem também determinações dos governos petistas, a candidatura petista não incorporava uma ideia de mudança tão forte como aquela agregada por Bolsonaro e a direita, aos olhos do eleitorado. E como a conjuntura era extraordinariamente mudancista, as forças que mais representavam essa aspiração protagonizaram a polarização final. Em suma: o fracasso do governo Temer manteve o PT no jogo, destruiu as chances do centro político e viabilizou Bolsonaro.
Além disso, o PT elegeu quatro governadores no Nordeste e conta com mais cinco governadores aliados na região. O Nordeste poderá ser o bastião da defesa da democracia se Bolsonaro descambar para o autoritatismo. Mesmo com a redução do número de deputados, o PT conseguiu eleger a maior bancada e obteve 47 milhões de votos no segundo turno, o que lhe dá uma enorme força de oposição. Fernando Haddad saiu fortalecido como liderança nacional. Mas terá que consolidá-la e, para isto, terá que enfrentar problemas internos ao PT e definir que tipo de relação estabelecerá com Ciro Gomes, que saiu vivo das eleições e disposto a ser um polo de oposição ao governo Bolsonaro. Tanto Haddad, quanto Ciro terão que encontrar maneiras de ter uma presença política nacional permanente para não sofrerem o efeito Marina Silva que aparecia apenas de quatro em quatro anos, minguando seu capital político. Ainda no campo da esquerda, o PSol, que aumentou sua bancada parlamentar, precisa avaliar o seu insucesso na eleição presidencial.
Dentre todos os partidos do sistema, o mais atingido foi o PSDB, mesmo contando as vitórias em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. No Rio Grande manteve-se a maldição de Borges de Medeiros: até hoje, nenhum governador conseguiu se reeleger depois que este instituto foi implantado. Mas o PSDB amargou o quarto lugar na eleição presidencial e foi o partido que mais perdeu deputados - 20 ao todo. Terá também enormes problemas internos para enfrentar, principalmente com João Dória, que traiu Alckmin e aspira tornar-se dono do partido.
O PSL de Jair Bolsonaro, sem dúvida, conseguiu um feito inédito ao constituir-se em partido nacional saindo praticamente do nada. Além do presidente, elegeu 52 deputados federais (a segunda maior bancada). quatro senadores e três governadores. A sua bancada na Câmara deverá tornar-se a maior, com novas adesões. A vitória de aliados de direita nos governos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais também fortalecem o presidente-eleito. Se o PSL se consolidará como um partido forte de forma permanente ou se apenas é um epifenômeno que surfou na onda mudancista é algo que terá que se ver no futuro. Bolsonaro e o PSL ou reformarão o sistema ou capitularão a ele. Tudo indica que a segunda alternativa é a mais provável.
Como será o governo Bolsonaro é uma grande incógnita. Mas o que é óbvio é o risco que ele representa para a democracia. Risco que pode se traduzir em violência dos seus partidários, em censura, em perseguição à oposição, e ataque aos direitos sociais e no reforço dos preconceitos contra os negros, mulheres, LGBTs e pobres em geral. A oposição terá que ser intransigente na defesa das liberdades, dos direitos e da democracia. Duas instituições poderão ter um papel relevante na contenção dos arroubos ditatoriais de Bolsonaro e dos bolsonaristas: o Judiciário e a cúpula das Forças Armadas.
O Judiciário teve uma atuação desastrada em vários episódios no passado recente e violou a Constituição e as leis. Alguns generais fizeram pressões e manifestações indevidas no que tange às decisões judiciais envolvendo o ex-presidente Lula. Mas agora, momento em que os riscos são grandes, o que se espera e se exige é que o Judiciário defenda a Constituição e que as Forças Armadas se mantenham dentro de uma linha legalista e que impeçam Bolsonaro de agredir a Constituição e as liberdades.
O PT perdeu a eleição presidencial no primeiro turno. Os erros foram vários: a definição tardia de Haddad como vice e como substituto de Lula; a campanha errou a mão em como apresentar Haddad ao eleitorado como um mero reflexo de Lula; o programa trazia propostas confusas, principalmente na economia; não havia uma estratégia de combate às mentiras e fake news e Bolsonaro foi subestimando, sendo que o PT veio a atacá-lo praticamente na última semana do primeiro turno. Alguns desses erros não havia como consertar e outros foram superados na campanha do segundo turno, com ataques mais duros e diretos a Bolsonaro e com a definição de três propostas que tocavam na vida das pessoas: reajuste do Bolsa Família em 20%, gás de cozinha a R$ 49 e reajuste do salário mínimo acima da inflação. Haddad, por sua vez, apareceu com mais energia, vigor,  autoridade.
Mas a campanha do PT enfrentou  e não resolveu um problema que vem se arrastando nos últimos anos: o antipetismo fincado na questão da corrupção e dos erros do governo Dilma. Se o PT não enfrentar estas questões de forma clara e resoluta elas continuarão a contaminar as futuras campanhas até que as gerações que vivem hoje desapareçam. O PT precisa examinar, sem fugir de suas responsabilidades, as razões que, após 13 anos de governos seus, levaram a direita ao poder no Brasil. Em resumo: o PT precisa despir-se das vestes do triunfalismo e da arrogância.
Ademais, o PT precisa renovar-se. A sua bancada parlamentar é constituída por parlamentares das antigas, analógicos, acomodados em seus esquemas de poder, com baixa combatividade e caminhando para o ocaso. Se o PT não se renovar com urgência, apoiando jovens e empoderando-os dentro do partido, o Tempo erodirá o seu poder. Na última eleição, por exemplo, os candidatos jovens e de primeira candidatura receberam migalhas do fundo eleitoral, enquanto que os deputados antigos receberam os maiores nacos, numa clara política de manutenção de uma aristocracia gerontocrática.
Por fim, o PT precisa tirar duras lições das sucessivas derrotas que vem sofrendo desde 2015. Não é mais possível que o partido continue anunciando triunfos vindouros e colhendo derrotas. O partido precisa olhar mais para as dificuldades e as advertências para, prudentemente, prevenir-se, preparar-se e planejar estratégias. Precisa perceber que sem força organizada poderá até ter vitórias eleitorais, mas serão efêmeras, e, nos momentos de  crises e confrontos decisivos, sem forças organizadas, principalmente nas periferias, será derrotado. As forças progressistas serão derrotadas. É preciso saber que sem a virtude da organização, do comando e do combate, o Tempo, a Fortuna e os inimigos arruínam todas as coisas do poder político."



(De Aldo Fornazieri, post intitulado 'Onda mudancista abala sistema político', publicado no GGN - AquiFornazieri é professor da Escola de Sociologia e Política [FESPSP].
"... o PT enfrentou  e não resolveu um problema que vem se arrastando nos últimos anos: o antipetismo fincado na questão da corrupção e dos erros do governo Dilma.Se o PT não enfrentar estas questões de forma clara e resoluta elas continuarão a contaminar as futuras campanhas até que as gerações que vivem hoje desapareçam. O PT precisa examinar, sem fugir de suas responsabilidades, as razões que, após 13 anos de governos seus, levaram a direita ao poder no Brasil. Em resumo: o PT precisa despir-se das vestes do triunfalismo e da arrogância."
Enfim, um diagnóstico preciso. Porém, remanescem questões pontuais:
.As aplicações do BNDES na área externa. O governo sempre argumentou que o financiamento de atividades no exterior se destinava, também, a estimular a economia interna brasileira, mediante a venda de máquinas e equipamentos a serem utilizados pelas empresas encarregadas da realização de serviços no exterior. Mas o governo deveria ter levado ao público, regularmente, detalhes sobre esse movimento, evitando especulações malévolas, como se viu AQUI
.As obras do porto de Mariel, em Cuba, uma iniciativa estratégica para o comércio exterior brasileiro, que ali vislumbrava um pujante entreposto comercial para Cuba e demais países do Caribe, com empresas do Brasil no páreo. Para se ter uma ideia da importância geoeconômica de Cuba, inicialmente os EUA de Barack Obama esboçaram a intenção de atuar nesse espaço; após isso, México e União Europeia passaram a desenvolver os mais ingentes esforços no sentido de com ela estreitarem parcerias comerciais - o que se acentua agora, com o processo de abertura política ali observado. O interesse estratégico comercial representado por Cuba deveria ter sido divulgado oportunamente pela comunicação governamental brasileira, como pano de fundo à construção/ampliação do porto de Mariel.
.A Venezuela. O governo brasileiro deveria, na época oportuna, ter dado ampla divulgação ao fato de que a aceitação do citado país como integrante do Mercosul decorreu, em muito,  da pressão exercida por empresários brasileiros em tal sentido. O presidente eleito Jair Bolsonaro anuncia o propósito de estreitar relações comerciais com os Estados Unidos, mas é conveniente lembrar que os EUA já são o nosso segundo parceiro comercial no mundo, só perdendo para a China. Os EUA, aliás, importaram da Venezuela, ao longo de anos, boa parcela do petróleo que consomem, até as sanções determinadas por Donald Trump - AQUI -, sanções, aliás, que, segundo analistas, poderiam ter 'mais' a ver com o interesse de empresas estrangeiras em abocanhar o petróleo da Venezuela, campeã mundial em  reservas provadas de petróleo, estimadas em 300 bilhões de barris. Sintomaticamente, os EUA preservam relações para lá de amistosas com a Arábia Saudita [de Jamal Khashoggi] e outros países não tão cultores da Democracia. A Venezuela vai muito mal em matéria de Democracia, isso é notório - mas seria conveniente tentar avaliar o papel exercido por sanções externas a ela impostos em face de interesses geopolíticos. O certo é que, em se tratando de relações comerciais e auferição de lucros empresarias, no mundo da economia o que pesa é ela própria, a economia, o interesse comercial. Fazendo lembrar o 'non olet' [o princípio do o dinheiro 'não tem cheiro'] reinante na doutrina e no dia a dia do direito tributário.
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NOTANão deixe de conferir - AQUI - eventuais razões para os "erros" cruciais cometidos pela VOX POPULI/247 relativamente à pesquisa no sábado passado, véspera do segundo turno da eleição presidencial de ontem, 28. SÃO MERECEDORES DE ESPECIAL ATENÇÃO OS ALERTAS FEITOS POR MARCOS COIMBRA NÃO SÓ SOBRE O QUE PODE TER OCORRIDO, MAS SOBRE O QUE PODE ACONTECER NO FUTURO).