segunda-feira, 30 de junho de 2014

COPA 2014: COPA DAS COPAS NO BRASIL


"ESSA COPA DAS COPAS É ESPETACULAR ATÉ MESMO QUANDO O JOGO É ZERO A ZERO!"




(Gustavo Hofman, comentarista da ESPN, após os 90 minutos da épica partida entre Alemanha e Argélia. Na prorrogação, Alemanha 2 X 1 Argélia, em mais um jogo antológico.
Em seguida, no Bate-Bola, mesa-redonda sem mesa, o competente Gerd Wenzel, alemão há tempos radicado no Brasil, destacou impressão externada em entrevista por ele concedida a emissora de rádio/TV alemã: essa Copa é de fato a Copa das Copas, com partidas empolgantes e um notável grau de organização, onde prevalece não o jeito alemão, com tudo organizado nos mínimos detalhes - e ainda assim com algumas falhas -, mas o jeito brasileiro de fazer Copa do Mundo, com uma certa improvisação mas com resultados altamente positivos.
E assim segue a Copa das Copas no Brasil).

ETTA HULME

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PAÍSES POBRES, PAÍSES RICOS


Etta Hulme. (EUA. Dez 1923 - jun 2014).

DANOS DO TERRORISMO ANTI COPA


'Arautos do pânico' anti Copa deveriam ressarcir os prejuízos causados à nossa economia

Por Hildegard Angel

Os botequins cariocas estão cheios. As filas dos supermercados são imensas e lembram corredores da ONU, onde todos os idiomas são falados e ouvidos. Gringos em todas as direções, empurrando carrinhos diante dos caixas. Porém, do comércio dos shoppings eles passam longe. As lojas dos ditos “quadriláteros da moda” estão vazias. Os salões de cabeleireiros, às moscas.

Verdade é que a massiva, sistemática e histérica campanha interna contra o Brasil, nos meses que antecederam a Copa do Mundo, em nossa mídia, nas redes sociais, no boca à boca, num evidente e muito bem articulado projeto, coisa de profissional, surtiu o efeito esperado: repercutiu, contaminou os sites, o noticiário internacional de credibilidade, afugentando o turismo estrangeiro com maior poder aquisitivo, receoso da violência, e causando estragos em vários setores da economia.

Para o Rio de Janeiro, não vieram os anunciados transatlânticos de luxo, que abrigariam os “turistas excedentes”, dos quais a hotelaria cinco estrelas carioca, carente em número de leitos, “não daria conta”. Alguém viu?

Quem investiu em reformas, pretendendo lucrar com gordos alugueis de aparts luxuosos, penthouses, apês com vistão, ficou a ver navios. Não houve procura.

Vieram os trailers, utilitários, vans, tendas, mochilas. Veio o Turista simpático, jovial e alegre dos kitinetes alugados, do dinheirinho contado para o dia à dia, que o carioca criativo logo apelidou de Durista.

Nada contra. Faz parte. Eventos esportivos como a Copa do Mundo atraem o turismo de massa. E esta Copa das Copas tem o charme especial de fazer brilhar os países da América do Sul, com torcedores entrando motorizados por todas as nossas fronteiras.

Porém, as agências se queixam de que os pacotes turísticos formatados não tiveram a saída pretendida, e agora eles são oferecidos, junto com as passagens aéreas, com tarifas reduzidas em até 40%, para a atual e a próxima temporadas. É o que dizem os jornais!

O ambicionado retorno com os gastos dos estrangeiros, atraídos pela Copa, ficará bem aquém do que outros países lucraram em suas Copas, quando viram lojas entupidas, fervilhando com turistas gastadores.

Quem vai ressarcir o nosso comércio, o nosso setor turístico, o nosso país? A turma do #nãovaitercopa? Os partidos de oposição? Os celerados, que passavam dia e noite em campanha no Facebook e no Twitter contra a nossa Copa do Mundo? Os Emissários do Pânico, que faziam “terrorismo” anti Copa via email? Os Arautos da Catástrofe, prenunciando que a violência ia eclodir, os aeroportos explodir e os estádios ruir? Aqueles que atribuíam todas as mazelas crônicas do país à Copa do Mundo, porém só se aperceberam disso às vésperas de ela acontecer?

Por que não iniciaram a campanha #nãovaitercopa ao primeiro movimento para trazer a Copa? Ou logo após o anúncio do Brasil como país sede ? Por que começaram a campanha justo no ano da Copa, isto é, ano da Eleição?

Seria o caso de perguntar: os responsáveis e diretamente interessados nessa campanha, que causou tamanho prejuízo à economia do país, a seu comércio, à sua indústria turística, enfim, a nós, vão nos ressarcir? (Fonte: aqui).

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Os prejuízos evidentemente não serão ressarcidos. Os arautos do pânico, prenhes de comovente isenção, cuidarão de localizar os empresários prejudicados e entrevistá-los, divulgando os desabafos e procurando insinuar ou enfatizar explicitamente que o responsável pelos danos é o governo federal.

E qual a razão de tanto esmero na campanha anti Copa? Simples: os arautos analisaram cuidadosamente os ganhos proporcionados ao país pela Copa das Confederações, em 2013, e concluíram pela necessidade de agir com determinação para evitar a avalanche de benefícios que adviriam da Copa 2014. Afinal, um ano tão estratégico eleitoralmente estava (está) a requerer cuidados especiais. Qual o público-alvo a ser eleito? Elementar: os ricaços. Afinal, quanto menos ricaços dessem as caras pelas plagas tupiniquins, menos gordura seria agregada ao PIB.

No frigir dos ovos, parte ponderável dos objetivos foi alcançada. Os arautos se julgam bem-sucedidos. Se não lograram evitar que a Copa 2014 viesse a ser a Copa das Copas, fora e dentro das quatro linhas (na metade da fase das oitavas, em 29 de junho, o número de gols marcados já se igualava ao total de gols alcançados ao fim da Copa 2010!), se confortam ao pensar que, com seu engenho e arte, evitaram que a Copa das Copas fosse ainda mais espetacular.  

ARGENTINA, FMI E QUEM ESTÁ ACIMA DELE


Quem atirou na Argentina?

Por Mark Weisbrot

Quando Cristina Kirchner concorreu à presidência da Argentina pela primeira vez, em 2007, havia um anúncio de campanha em que crianças pequenas respondiam à pergunta: “O que é FMI (Fundo Monetário Internacional)?” Elas davam respostas engraçadinhas e ridículas, tais como “FMI é um lugar com muitos animais”. O narrador, então, dizia: “Conseguimos fazer com que seus filhos e netos não saibam o que significa FMI.”

Até hoje, não há nenhum caso de amor entre o FMI e a Argentina. O Fundo articulou o terrível colapso econômico de 1998-2002 no país, bem como numerosas políticas fracassadas nos anos anteriores. Mas quando a Corte de Apelações para o Segundo Circuito dos EUA decidiu em favor dos fundos-abutres, que tentam receber o valor integral da dívida argentina, que compraram por 20 centavos o dólar, até mesmo o FMI foi contra.

De modo que muitos observadores surpreenderam-se, na segunda-feira passada (23/6), quando a Corte Suprema dos EUA recusou-se até mesmo a rever a decisão do tribunal. A Corte Suprema precisa de apenas quatro juízes para conceder petição para “certiorari”, ou rever a decisão de instância inferior, e este era um caso extremamente importante. A maioria dos especialistas concorda que ele tem sérias implicações para o sistema financeiro internacional. Ainda mais importante: a Corte de Apelações decidiu que, se a Argentina pagar os mais de 90% dos credores que aceitaram um acordo de reestruturação da dívida, entre 2005 e 2010, ela está obrigada também a pagar os fundos-abutres [1].

O que significa isso? No final de 2001, em meio a uma recessão profunda e incapaz de financiar enormes pagamentos da dívida, a Argentina entrou em moratória. Foi a decisão certa; a economia do país iniciou uma recuperação robusta, apenas três meses depois. Quatro anos mais tarde, 76% dos credores aceitaram uma reestruturação da dívida, que incluiu a redução de cerca de dois terços do valor de seus créditos. Por volta de 2010, mais de 90% dos credores havia aderido, aceitando novos títulos no lugar dos anteriores.

A decisão do tribunal norte-americano significa que um fundo-abutre, ou qualquer credor “resistente”, pode impedir ou destruir um acordo anterior, negociado com o resto dos credores. Como não existe algo como uma lei de falências para os tomadores de empréstimo do governo, a decisão pode limitar severamente a capacidade de credores e devedores chegarem a acordos civilizados, em casos de crise da dívida soberana. Esta é uma grande ameaça ao próprio funcionamento dos mercados financeiros internacionais.

Então, por que a Corte Suprema dos Estados Unidos decidiu não julgar o caso? Talvez porque tenha sido influenciada por uma mudança de posição do governo norte-americano, que o teria convencido de que o caso não era tão importante. Ao contrário da França, Brasil, México e do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, o governo dos EUA não entrou com um amicus curiae [2] na Suprema Corte, apesar de ter feito uma apresentação, no caso. E – aqui está o grande mistério – tampouco o fez o FMI, embora tenha manifestado publicamente preocupação com o impacto dessa decisão.

Em 17 de julho de 2013, a diretora do FMI, Christine Lagarde, anunciou que o Fundo apresentaria um amicus curiae na Suprema Corte norte-americana. Então o Conselho do FMI reuniu-se e, de forma um tanto constrangedora, decidiu em sentido contrário, devido às objeções dos EUA. Essa poderia ser a razão pela qual a Suprema Corte não convidou o procurador-geral dos EUA para uma exposição e, ao final, não reviu o caso. Mas quem seria o responsável pela reviravolta de Washington?

Como em uma novela de Agatha Christie, há numerosos suspeitos de ter cometido a ação. O lobby dos fundos-abutres – um grupo bem relacionado, liderado por ex-integrantes do governo Clinton –, conhecido como Grupo Americano de Ação Argentina, gastou mais de 1 milhão de dólares no caso, em 2013. Além disso, há os suspeitos usuais no Congresso, principalmente os neo-conservadores e a delegação da Flórida, que querem mudar o partido político no poder na Argentina após as eleições de outubro de 2015.

Notas:
1 - Fundos-abutres (“vulture-funds”, em inglês), são fundos que investem em “papéis-podres” – ou seja, títulos que perderam quase todo seu valor, nos mercados financeiros. O fundos-abutres compram estes títulos por uma parcela insignificante de sua cotação original, esperando lucrar mais tarde, quando o devedor se recuperar e a cotação de sua dívida subir. [Nota da Tradução]

2 - Amicus Curie (“Amigos da Corte”, em latim) é intervenção feita, num processo judicial, por uma pessoa ou entidade julgada representativa e que, não sendo ligada diretamente na disputa, tem interesse em influenciar seu desfecho. [Nota da Tradução]. (Fonte: aqui).

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"...Além disso, há os suspeitos usuais no Congresso, principalmente os neo-conservadores e a delegação da Flórida, que querem mudar o partido político no poder na Argentina após as eleições de outubro de 2015."

Que os neo-conservadores querem mudar o partido político no poder na Argentina, não há dúvida, uma vez que aquele país não se vem submetendo à influência 'metropolitana' (ao contrário da vassalagem que caracterizou o governo Carlos Menem, por exemplo). Mas esse propósito não se restringe aos neo-conservadores, assim como as atenções dos diversos grupos opositores não estão voltadas unicamente para a Argentina. A sorte de outros países não julgados politicamente simpáticos, como o Brasil, é que eles não estão na 'bacia das almas' do FMI, bem como não respondem por pendências judiciais que os possam tornar reféns da metrópole.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: CLIQUE AQUI

COPA 2014: DA SÉRIE CONTRATEMPOS DE QUE O SUCESSO NOS POUPOU


Das pérolas de que escapamos (porque a Copa deu certo)

Por Emir Sader

Já tinham seu estoque de frases prontas, todas ao estilo “Não disse”, “Bem que eu falei”, “Eu sabia que ia dar nisso”, “Se tivessem me escutado”. Frases de tia gorda, como dizem na Argentina.

Mas deu certo, e desse benefício também gozamos: escapamos dessas imbecilidades. Não custa fazer a lista do que teriam sido as declarações dos vira-latas. Listo algumas, vocês completam.

“Com um governo assim, só poderia ter dado totalmente errada a Copa do Mundo.”
“Só quem não conhece tráfego aéreo não sabia que o caos aéreo ia se instalar nos aeroportos do Brasil.”

“A prepotência do governo, que não deu ouvidos às reclamações, fez com que o Brasil tenha passado a maior vergonha internacional da sua história.”

“Os estádios mais pareciam canteiros de obras. Como denunciamos, começou a Copa com estádios sem terminar. A incompetência do governo ficou evidente para o mundo.”

“O governo não deu importância às manifestações populares e o transporte nas cidades da Copa colapsou. Gente abandonada nas ruas, torcedores que compraram entradas e não puderam chegar aos estádios, um caos urbano.”

“O governo saiu ainda menor do que entrou na Copa.”

“É esse governo, que organizou essa Copa do Mundo, que quer se reeleger para seguir dirigindo o Brasil?”

“Foi um erro ter trazido a Copa para o Brasil. Com tantos problemas na educação, na saúde, fomos gastar essa dinheirama toda na Copa.”

“Todo mundo sabia que com a Copa as manifestações iam voltar com mais força ainda, o governo seria incapaz de contê-las e teríamos essas cenas de violência e de sangue pelas ruas das cidades da Copa, em todos os jogos.”

“Fracasso de organização, fracasso de público: estádios vazios durante quase todos os jogos da Copa.”

“A impressão que os estrangeiros levam do Brasil é a pior possível. Bem que a mídia mundial prevenia para que não viessem. O próprio Ministério de Relações Exteriores da Alemanha preveniu a seus cidadãos para não virem. Muitos vieram, com a ilusão de que seus jogadores iam cantar o Hino do Bahia, que iam tomar chope com a Angela Merkel, que iam se divertir com o povo da Bahia. Ledo engano. Assaltos, violência, estupros, tudo o que se previa aconteceu. A imagem do Brasil saiu mais arranhada ainda do Mundial.”

“O que será do turismo brasileiro depois desse show de desorganização, incompetência, falta de acolhida fraternal dos brasileiros, assaltos, roubos, durante o Mundial?”

“O mundo pôde confirmar in loco que a mídia brasileira tinha razão quando fazia denúncias sistemáticas sobre o desastre que ia ser o Mundial. A nossa mídia sai fortalecida na sua credibilidade e as vozes dissonantes e o governo, ainda mais enfraquecidos.”

 “Bem que o Ronaldo, com o seu discernimento para distinguir as coisas, disse: Vamos passar a maior vergonha e a Fifa, traumatizada, nunca mais vai querer fazer uma Copa no Brasil.”

“Mas os brasileiros vão derrotar a esse governo incompetente em outubro, para que o Brasil nunca mais passe essa vergonha.”

“Agora o mundo todo ficou sabendo porque nós combatemos sem tréguas  esse governo incompetente.”

“O povo gritou nas ruas: Não vai ter Copa. E não houve!”

“Dissemos tanto 'Imagine na Copa'. E o descalabro foi tanto, que superou nossa imaginação.” (Fonte: aqui).

domingo, 29 de junho de 2014

COPA 2014: VAIA AO HINO CHILENO PEGOU MAL, GALERA


"O que leva uma pessoa a vaiar o hino de outro país enquanto ele é executado em um jogo de Copa do Mundo? Entendo que, em bando, os seres humanos não raro ficam mais idiotas. Isso é facilmente comprovável, por exemplo, por algumas torcidas organizadas que compensam suas frustrações cotidianas e reafirmam identidades de forma tosca através da violência.

Contudo, não são as torcidas organizadas que preenchem as arquibancadas dos estádios de futebol nestes jogos da seleção (aliás, se fossem, ao menos empurrariam o time o tempo inteiro ao invés de ficarem em silêncio, com cara de susto e medo, diante de momentos tensos), mas grupos com maior poder aquisitivo, dado o preço de boa parte dos ingressos.

Renda pode até estar diretamente relacionada à obtenção de escolaridade de melhor qualidade. Mas escolaridade definitivamente não está relacionada com educação. Ou respeito. Ou bom senso. Ou caráter.

E considerando que, provavelmente, muitos dos que vaiaram o hino do Chile quando executado à capela foram os mesmos que, minutos depois, estavam cantando “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor'', posso concluir que o sujeito é guiado pela aversão do estrangeiro característica da xenofobia. Aversão potencializada e exposta pela covarde sensação de segurança por ser maioria e estar em casa.

Vaiar o hino do adversário não é uma brincadeira. Muito menos uma catarse coletiva, uma indignação contra a cantoria à capela do outro. Nem ajuda na partida. Pelo contrário, mostra para o mundo que está assistindo pela TV que nós, brasileiros, podemos ser tão preconceituosos quanto os preconceituosos que, não raro, nos destratam no exterior simplesmente por sermos brasileiros.

Aos vizinhos chilenos, portanto, peço que nos perdoem. Parte de nossos conterrâneos não sabe o que faz."



(Leonardo Sakamoto, post intitulado "Vaia ao Hino do Chile: a torcida brasileira que nos envergonha para o mundo" - aqui).

COPA 2014: MESA REDONDA


Vasqs.

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Comentários adicionais na mesa redonda

- Júlio César gritou alea jacta est - e agarrou os dardos lançados pelo Chile.

- Júlio César saiu por baixo em 2010, foi à luta, persistiu, e ontem, com louvor, abiscoitou um 10.

- Júlio César provou: quem se banha no rio da esperança jamais joga a toalha.

- Júlio César retribuiu à altura a convocação para a Copa 2014: ofereceu a Felipão a chance de corrigir os muitos furos da Seleção.

COPA 2014: A VISÃO MÍOPE GLOBALIZADA


Sucesso da Copa no Brasil expõe ao mundo o cinismo da imprensa brasileira

Por Michel Arbache

O Jornal Nacional (1) de quinta-feira (26/06/2014) destacou a má vontade da mídia internacional em relação a Copa 2014 no Brasil nos dias que antecederam o início do campeonato da FIFA. Na matéria, o apresentador William Bonner diz: "os jornais estrangeiros eram especialmente ácidos nas críticas". A matéria que segue no JN faz o telespectador desavisado ficar com um misto de ironia e revolta em relação a má vontade da mídia estrangeira que desdenhou da capacidade do Brasil de organizar grandes eventos, como a Copa do Mundo.

O que o Jornal Nacional (e quase toda a mídia brasileira além da Globo, como SBT, Band, Abril, Folha, Estadão etc) "esquece" de dizer é que a imprensa internacional se baseou exatamente na imprensa brasileira para emitir a impressão catastrófica sobre a Copa do Mundo no Brasil. Tal sentimento de derrotismo (ou vira-latice, como diria Nelson Rodrigues) contagiou celebridades nacionais como Ney Matogrosso (que desdenhou o Brasil e a Copa numa TV portuguesa) (2) e Paulo Coelho, que, após usar seu prestígio internacional como lobby para trazer a Copa ao Brasil, escreveu um artigo (3) dizendo-se arrependido e prevendo que a Copa no Brasil seria uma vexame para o país. Sem contar o gol contra de Ronaldo "Fenômeno", escalado para ajudar a organizar a Copa, dizendo-se "envergonhado" com a Copa; ou do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), prevendo em 2013 que a Copa no Brasil traria prejuízos irrecuperáveis ao país (4); e finalmente o ponta-de-lança do jornalismo da Globo, Arnaldo Jabor, prevendo que a "Copa vai revelar ao mundo a nossa incompetência". (5)

Ante todo esse cinismo da mídia brasileira, o escritor Ruy Castro, sem papas na língua, não poupou críticas ao que classificou como "espírito de porco". No programa 'Redação SportTV' (Globo), Ruy lembrou que a "má vontade" da mídia internacional em relação a Copa no Brasil (antes desta começar) era absolutamente normal, pois espelhava o que saía na imprensa do Brasil. Aliás, o próprio programa 'Redação SportTV' fez galhofa com a organização da Copa do Mundo cinco meses antes do início desta. (6)

Fontes: (AQUI)

1- Jornal Nacional do dia 26/06/2014 ironiza imprensa internacional.
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/06/clima-festivo-e...

V2- Ney Matogrosso detona o Brasil e a Copa em TV portuguesa.
https://www.youtube.com/watch?v=c-q5nwCE-l
3- "Copa será um desastre" - Premonição do mago da ABL, Paulo Coelho.
http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/05/19/paulo-coe..
4-"Copa no Brasil trará legado de prejuízos ao país" - Álvaro Dias.
https://www.youtube.com/watch?v=SlilfQhuz6
5- "A Copa vai revelar ao mundo a nossa incompetência" - Arnaldo Jabor, da Globo.
https://www.youtube.com/watch?v=nYteyzzp_O
6- "Imprensa brasileira teve espírito de porco antes da Copa" - Ruy Castro.
https://www.youtube.com/watch?v=EgsdW3_06iw

SOBRE O SUCESSO DA COPA 2014: REPASSANDO ESCRITOS


A Copa é um sucesso, e ponto

Por Alberto Carlos Almeida

Diz o ditado que recordar é viver. Hoje, desejo recordar o que escrevi tempos atrás acerca do que ocorreria em nossa Copa do Mundo. Fui voz dissonante. Na contracorrente, afirmei que a Copa seria um sucesso. Não disse isso baseado em "wishfull thinking" (veja observação, abaixo), mas na análise de informações reais acerca de como nos comportamos nas Copas anteriores (ainda que não tivessem ocorrido no Brasil), de como o brasileiro vê o futebol e o que ele significa para nossa sociedade.

Como uma vez disse Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes. A mídia se comportou como principiante quando se tratou de supor o que iria acontecer na Copa brasileira. Gerou enormes expectativas negativas em torno do evento, mas nenhuma se realizou. Bastava ter visto como fora a Copa das Confederações, quando oito seleções lotaram de torcedores vários estádios. A Copa do Mundo seria quatro vezes maior em termos de movimentação, embora espalhada por mais cidades. A mídia inteira ignorou esse fato.

Mais grave ainda, os jornalistas brasileiros ignoraram que o país tem capacidade de organizar inúmeros grandes eventos. Em artigo publicado nesta coluna em 10 de janeiro, sob o título "Blatter fala e a caravana vai passando", afirmei:

"A imprensa, motivada pelo complexo de vira-latas, termo de Nelson Rodrigues que imortalizou a falta de autoestima que temos, já fez um longo e competente trabalho ao plantar tais expectativas na cabeça dos brasileiros. Essa visão predominantemente negativa da população não é ruim para o governo. O motivo é simples: não haverá engarrafamentos em dias de jogos, os turistas terão onde se hospedar e haverá voos suficientes.

"Não há pressão sobre a logística maior do que a provocada pelo Réveillon e pelo Carnaval. O deslocamento anual causado por ambos os eventos para cidades que serão sede de jogos, como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, é maior, e sempre será, do que aquele que ocorrerá durante a Copa do Mundo. Estamos nesse período e não houve nenhuma notícia sobre engarrafamentos, falta de vagas em hotéis e de lugares em voos. Pode ser que a imprensa não dê importância a isso e seja inteiramente enviesada, isto é, problemas logísticos não são noticiados no Révellion e no Carnaval, mas o serão na Copa do Mundo. Ora, se for isso mesmo, trata-se realmente de um caso único de complexo de vira-latas e, acima de tudo, de péssimo jornalismo. Não creio nisso. O mais provável é que a expectativa negativa dos brasileiros não venha a ser realizada: os engarrafamentos não serão maiores ou menores em dias de jogos, e haverá onde se hospedar, assim como voos suficientes.

"Igualmente importante é o clima criado pela Copa do Mundo. As estrelas do noticiário serão Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, dentre outros. O que a população vai querer ver no noticiário não são coisas negativas, mas sim os gols mais bonitos e os jogos mais disputados. A televisão dará mais espaço no noticiário para a chegada das seleções ao Brasil do que aos voos atrasados. O clima jornalístico e publicitário de uma Copa é avassalador quando ela é realizada fora do Brasil. Imagine-se agora, quando será no país do futebol".

Em outro artigo, também nesta coluna, publicado em 24 de janeiro, sob o título "As lições de Nelson Rodrigues", escrevi:

"O grande problema em que se incorre ao falar mal da organização da Copa do Mundo no Brasil é que, de acordo com pesquisa do Instituto Análise, 83% dos brasileiros torcem pela seleção, 82% dizem que assistem aos jogos do Brasil durante as Copas, 70% torcem por um time de futebol, 64% se interessam por notícias sobre futebol e 60% conversam ou fazem brincadeiras sobre futebol com parentes e amigos. A proporção dos que respondem afirmativamente a todas essas cinco perguntas é de impressionantes 51%. Ou seja, pouco mais da metade da população brasileira torce pela seleção, assiste seus jogos, têm um time de futebol, se interessam por notícia de futebol e fazem brincadeiras e conversam sobre o tema com parentes e amigos. Para bom entendedor, meia palavra basta: no Brasil, o futebol não é brincadeira".

Sobre as previsões de protestos intensos durante a Copa, escrevi em 7 de fevereiro, sob o título "Copa do Mundo e protestos":

"É impossível afirmar se haverá protestos ou não durante a Copa do Mundo. Muitos previram que haveria durante a Jornada Mundial da Juventude, e acabou não acontecendo. Aqueles que são contra o governo têm previsto que os protestos serão intensos. Os que apoiam o governo dizem que não haverá protestos, ou que serão mínimos. É fato que a população acredita que ocorrerão manifestações e que será uma oportunidade de pressionar os políticos a resolverem de forma mais efetiva os problemas. A população crê que a mídia internacional, na presença dos protestos, dará ampla cobertura e que isso resultará em decisões efetivas dos governos. A simples crença em um fato não o leva a acontecer. Por outro lado, no caso dos acontecimentos sociais, tal crença pode resultar em uma profecia que se autocumpre. Contra o governo, estão as expectativas da população de que ocorrerão manifestações. Está a favor o clima criado pela mídia em uma Copa do Mundo. Afinal, quem trocará assistir várias vezes ao gol mais bonito, a análise do erro do juiz, comemorar com os amigos a vitória em cada partida da seleção, quem trocará isso por acompanhar as notícias negativas acerca da organização da Copa?"

Foi interessante reler isso agora, durante a Copa. Igualmente interessante foi relembrar a capa da revista alemã "Der Spiegel" com a bola da Copa, a brazuca, pegando fogo e caindo sobre o Rio de Janeiro. A matéria da revista era fortemente crítica à Copa e recheada de previsões catastróficas, nenhuma das quais se verificou. Aqui no Brasil, a matéria da "Der Spiegel" foi considerada por muitos o atestado de que a Copa seria um fracasso retumbante. Afinal, eram os alemães que estavam dizendo e, considerando-se nosso complexo de vira-latas, eles são superiores aos brasileiros.

O que dizer, então, do "imagina na Copa"? "Imagina na Copa" quantos erraram o que estava previsto para acontecer. "Imagina na Copa" o sucesso que estão sendo os jogos e a receptividade aos turistas. E tome-se "imagina na Copa". Espero que não seja iniciado desde já o "imagina na Olimpíada".

O sucesso da Copa tem a ver com algo que escrevi, também nesta coluna, em 8 de fevereiro do ano passado, no artigo intitulado "A Copa do Mundo será um outro Carnaval":

"Mais do que nacional, a Copa do Mundo, no país do futebol, será um evento social. As pessoas se mobilizarão para acompanhar os jogos, vão economizar para pagar suas viagens rumo às cidades-sede, para ver várias seleções em suas concentrações, obter autógrafos de estrelas do futebol. Não haverá indiferença, não apenas a respeito de nossa seleção, mas acerca de todas as delegações que desembarcarão no Brasil para disputar o torneio. O motivo mais importante que impedirá o fracasso de nossa Copa do Mundo é que ela será carnavalizada. Vale repetir, a Copa é o maior evento do mundo do futebol que ocorrerá no país do Carnaval e do futebol. Ora, isso não pode ser desconsiderado. Quem ignora essa combinação não sabe o que faz o Brasil, não compreende nossas especificidades".

Espero que aqueles que previram o fracasso da Copa tenham aprendido um pouco sobre o Brasil. (Fonte: aqui).

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Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de "A Cabeça do Brasileiro".

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"Espero que aqueles que previram o fracasso da Copa tenham aprendido um pouco sobre o Brasil", eis a frase com que Alberto Almeida conclui sua abordagem. Cumpre notar que, segundo a grande e douta imprensa brasileira, a grande imprensa brasileira nada tem a ver com o assunto; toda a campanha contra o Brasil teria sido conduzida pela imprensa internacional. (Risos).

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Observação: Segundo a Wikipédia, "Wishful thinking é uma expressão idiomática inglesa que por vezes se utiliza na língua portuguesa devido a ser de difícil tradução, e que significa tomar os desejos por realidades e tomar decisões, ou seguir raciocínios, baseados nesses desejos em vez de em fatos ou na racionalidade. Pode ser traduzido como otimismo exagerado.
Muitos estudos provaram que, se todas as outras condições se mantiverem iguais, os sujeitos irão prever que os resultados positivos são mais prováveis do que os resultados negativos. Ver desequilíbrio por resultados positivos. (...)."

sábado, 28 de junho de 2014

COPA 2014: RESUMO DE BRASIL CHILE


Dálcio Machado.

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SOB O DOMÍNIO DA AFLIÇÃO.
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"Um jogo sofrido, em todos os sentidos. Uma arbitragem questionável, para dizer o mínimo. Um vacilo inacreditável da defesa brasileira no primeiro gol do Chile. E um desempenho quase místico de Júlio César nos pênaltis."  - AQUI.
(...).

A ALTERNATIVA PARA O BRASIL


Brasil: por um lugar no mundo

Por Mauro Santayana

Todas as grandes nações do mundo se ergueram sobre espaços amplos, população instruída, e o ânimo de grandeza. Essas são as condições para que seu povo disponha de autoestima, identidade nacional, e exerça sua influência política e econômica em sua região.

Há países que nascem suficientemente fortes, do ponto de vista territorial e populacional, em determinado continente para o exercício de sua liderança. Esse foi o caso dos Estados Unidos, com relação às Américas, da independência até meados da segunda metade do século passado, ou da Rússia, no território ocupado pela União Soviética, depois da Revolução de Outubro.

Outras nações, ainda que desprovidas de grandes territórios ou população, conseguiram estender sua influência para além de suas regiões de origem, como, por exemplo, Portugal, que foi buscar na África, na Ásia e na América do Sul uma dimensão que não tinha em sua própria Península, ou no contexto continental daquela época.

Sem autoestima e identidade nacional, os portugueses não teriam cruzado o Atlântico. Os Estados Unidos não se teriam transformado, por extenso período, na nação mais poderosa do mundo. A URSS não teria derrotado o nazismo, ou enviado o primeiro satélite, o primeiro foguete, o primeiro homem para a órbita da Terra, dando início à conquista do espaço.

Sem autoestima e identidade nacional, a China não teria erguido, há 4 mil anos, a Grande Muralha, e construído o Exército de Terracota, nem teria chegado onde se encontra, prestes a se transformar na maior economia do planeta – por poder paritário de compra – antes de dezembro, e na nação mais importante do mundo, nos próximos anos.

Sem autoestima, e identidade nacional, o Brasil não teria, nos últimos anos, contribuído para a derrocada progressiva do G-8, participando decisivamente da criação do G-20; nem do Mercosul, para a qual se esforçaram os cinco últimos presidentes da República; nem fundado a Unasul - União das Repúblicas Sul-Americanas; nem o Conselho de Defesa Sul-Americano, criando as condições para o estabelecimento natural e pacífico de nossa influência política e econômica, no restante do continente.

Há outros países, como o México, por exemplo, que, ainda que quisessem, não conseguiriam fazer o mesmo. Na região do mundo em que se situa o México, o país mais importante em economia, território, população, são os Estados Unidos, que lhe tomaram, em ato de guerra, boa parte do território. Além do vizinho do norte, que projeta sobre ele esmagadora influência, o México só faz fronteira com Belize e Guatemala, duas pequenas nações, do ponto de vista territorial e demográfico, que não pertencem ao Nafta, e são incapazes de se aliar a ele em qualquer tipo de alternativa geopolítica ou econômica.

Além do Mercosul, e da Unasul, a influência brasileira se exerce, do ponto de vista global, no Brics, a aliança que nos une à Rússia, China, Índia, e África­ do Sul, países que têm, como característica, ser – como o Brasil –, cada um à sua maneira, o mais poderoso em suas respectivas regiões.

No âmbito do Brics, se negociarmos, com inteligência, com os chineses, a criação de joint ventures (espécie de parceria em que dois sócios se unem para executar um empreendimento específico) industriais, meio a meio, para o atendimento ao nosso mercado interno, evitaremos que todo o lucro tome, todos os anos, o caminho do exterior, como ocorre com as multinacionais instaladas no Brasil, que são majoritariamente europeias e norte-americanas.

Com a Rússia, e com nossos outros sócios, como os chineses e indianos, podemos aprender a explorar o espaço, como já estamos fazendo, construindo, de igual para igual, satélites como os CBERS sino-brasileiros. Com a Índia, podemos aprender em matéria de software e da capacitação maciça de engenheiros na área de TI.

Com todos eles podemos desenvolver e produzir armamento para defender, se necessário, o quinto território do mundo, e as riquezas da Amazônia Azul, que se escondem em nossas águas do Atlântico. Obtendo a tecnologia de ponta, na área de defesa, que sempre nos foi negada pelos europeus e norte-americanos.

Afinal, se Índia, China e Rússia fossem nações atrasadas, estudantes e cientistas desses países não estariam à frente das maiores descobertas científicas realizadas nos últimos anos, no “ocidente”. Nem venceriam, como estão fazendo os chineses e suas universidades, as maiores competições acadêmicas internacionais.

Na economia, a única região do mundo em que ainda temos competitividade em manufatura – o que se deve também ao protecionismo norte-americano e da União Europeia – é a América Latina, e, mais especialmente, a América do Sul.

Apresentar a Aliança do Pacífico como contraponto ao Mercosul, que nos deu mais de US$ 50 bilhões em superávit nos últimos dez anos, é uma balela. O México só sobrevive por estar na fronteira sul dos Estados Unidos, o maior mercado do mundo. Fazer um acordo de livre comércio com os Estados Unidos não nos aproximaria nem um centímetro a mais de suas fronteiras, que continuariam a milhares de quilômetros e tão distantes de nossos produtos como estão agora.

Nossos salários são muito maiores que os do México. Crescemos mais que eles nos últimos dez anos – incluindo 2013 – e somos superavitários com nações, como a China, que usam o México como plataforma de exportação, enquanto a indústria do país de Zapata teve com Pequim US$ 51 bilhões de prejuízo no último ano. Não existe seguro-desemprego no México. Sessenta por cento de sua população se encontra na informalidade, e ele é, segundo a própria OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), organização a que pertence, o país mais desigual das Américas. Ao contrário do México, exportamos mais para o Mercosul do que para os Estados Unidos, e é natural que o façamos, já que não temos fronteira com os Estados Unidos, mas dividimos as nossas com nove diferentes países sul-americanos.

Dizer que os Estados Unidos ou a Europa serão para nós mercados maiores que nossos vizinhos é ignorar a geografia e se burlar da história. Basta ver quantos contenciosos já tivemos com os Estados Unidos, devido a barreiras impostas por eles para nossos produtos, entre eles o aço, o etanol, o suco de laranja etc.

Os acordos assinados entre a Rússia e a China, no dia 21 de maio, para cooperação científico-militar e a exportação de gás no valor de US$ 400 bilhões, mostram onde está o dinheiro, o poder e o futuro. Certamente, ele não está nem em uma Europa decadente, nem em um Estados Unidos que nada nos ofereceram de justo no passado, e que nos compram cada vez menos, sem nos dar um centavo de superávit.

Recente levantamento, realizado pela agência inglesa Ipsus-Mori, em 20 grandes países, comprova isso. Segundo a pesquisa, os norte-americanos são mais pessimistas que os mexicanos, e na França só 7% da população considera que o mundo em que viverão seus filhos será melhor que o de agora. Depois, vêm os 13% de otimistas da Bélgica e os 16% da Espanha, enquanto os habitantes dos Brics são os mais confiantes, com 81% dos chineses, por exemplo, afirmando que o amanhã será muito melhor do que o presente.

Nosso futuro está nos Brics, no qual seus quatro maiores membros se encontram – incluído o Brasil – por qualquer critério, entre as dez primeiras economias do mundo.

O nosso destino, e principal opção estratégica, é fortalecer nossa cooperação com os vizinhos, e nos aliarmos à Rússia, Índia, China e África do Sul, na única aliança que nos pode oferecer um lugar no mundo nas próximas décadas. Ou assumimos isso – uma situação e uma atitude à altura de nossa história e geografia – ou partimos para a abjeta entrega, aos interesses europeus e norte-americanos, de nosso território, recursos, ­consumidores e do mercado sul-americano. (Fonte: aqui).

COPA 2014: A HORA FATAL

                                        - Essa é a hora de invadir!

Patrick Chappatte.

O BRASIL QUE NÃO RENDE MANCHETE


O Brasil que não rende manchete

Por Luciano Martins Costa

O Brasil que dá certo é o título de um livro do contabilista e administrador de empresas Stephen Charles Kanitz, cuja primeira edição saiu em 1994, e também uma frase que inspira muitas iniciativas editoriais e eventos sobre economia, desenvolvimento e responsabilidade social empresarial. É também a mais recente iniciativa da Folha de S.Paulo, que publica nesta semana cadernos especiais, patrocinados, com reportagens sobre histórias de sucesso nos negócios.

Na edição de quinta-feira (26/6), o tema é a região Sudeste. Ao longo da semana, desde segunda-feira, o jornal já produziu perfis da região Centro-Oeste (23/6), do Nordeste (24/6), e da região Norte (25/6). Além do governo federal, que contribuiu com meia página apenas na edição que inaugurou a série, a iniciativa é bancada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela empreiteira Camargo Corrêa.

Não se trata, portanto, de um produto capaz de encher os cofres do jornal, mas também não deve dar prejuízo, principalmente porque é realizado a baixo custo por jornalistas freelancers e articulistas não remunerados. Esse tipo de iniciativa tem sido explorado à exaustão pela mídia impressa, e funciona como fonte de recursos valiosos para fazer frente ao volumoso custo das redações. No entanto, também representa um ponto crítico a ser administrado com cautela, porque em geral traz conteúdos de interesse exclusivo de algum setor da economia, de governantes ou de grupos específicos de empresas.

Nas redações, o núcleo encarregado de produzir essa fonte de receita pode ser malvisto pelos profissionais que só se dedicam ao chamado jornalismo “puro e duro”. Para funcionar bem, esse tipo de suplemento precisa assegurar que a pauta tenha potencial para atrair anunciantes, o que costuma gerar tensões quanto à suposta independência do jornalismo.

No Estado de S. Paulo, um ex-editor de Economia coordena as publicações desse tipo, e sua principal função é evitar que o interesse das agências que negociam a inserção de anúncios nesses cadernos híbridos contamine o núcleo editorial. A grande vantagem é que esse editor não precisa fazer plantões de fim de semana e feriados.

O lixo catastrofista

Com isso, pode-se dizer que não há exatamente uma novidade na série que a Folha de S.Paulo batizou de “O Brasil que dá certo”. A não ser o fato de que, ao ler cuidadosamente seu conteúdo, o leitor pode chegar à conclusão de que os editores do jornal paulista entraram em surto esquizofrênico agudo.

Pois não é que o jornal que se considera o mais crítico do Brasil, aquele para quem supostamente não há “vacas sagradas”, anda produzindo textos megaelogiosos sobre o estado da economia nacional?

Vejamos, por exemplo, o primeiro caderno da série, que traz um perfil da situação econômica do Centro-Oeste: ali se pode ler que a soja e o algodão impulsionaram o parque agroindustrial de Mato Grosso, fazendo com que o estado tivesse uma alta de 73% em seu Produto Interno Bruto nos últimos dez anos. Além disso, há textos sobre negócios de sucesso no setor de franquias e uma reportagem sobre a transformação de um antigo polo de pirataria em novo centro de indústrias regulares de confecção, que geram nada menos do que 17 mil empregos formais.

Na edição seguinte, sobre o Nordeste, o destaque vai para os R$ 37,4 bilhões investidos em dez parques de energia eólica, que devem gerar 125 mil empregos e contribuir para tornar ainda mais limpa a matriz energética do Brasil. O mapa que acompanha a reportagem principal mostra um surpreendente processo de transformação da economia regional, que deixou de ser uma fonte de emigrantes pobres para se tornar um polo atrativo de trabalhadores qualificados.

Na edição de quinta-feira (26/6), o caderno especial da Folha fala da força e da capacidade inovadora da indústria instalada em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde se encontra a melhor qualidade de vida do país e onde podem ser constatados números surpreendentes, como os 724% de crescimento do PIB no município fluminense de Porto Real.

Com toda certeza, o caderno de sexta-feira (27/6), sobre a região Sul, vai trazer belos indicadores sobre a pujança da economia no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Então, o leitor e a leitora atentos poderá se perguntar: se o Brasil que dá certo naqueles cadernos especiais é o Brasil inteiro, de onde os jornais tiram o lixo catastrofista com que entopem os olhos do leitor nas primeiras páginas todo santo dia? (Fonte: aqui).

sexta-feira, 27 de junho de 2014

OITAVAS: QUE VENHA O CHILE


Sinfrônio.

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Destaques da 1ª fase

.Melhor time ............ Holanda

.Pior time ................ Coreia do Sul

.Melhor jogador ....... Neymar

.Pior atitude ............. Suárez, do Uruguai

.Melhor gol .............. Van Persie (primeiro gol da Holanda, na goleada de 5 X 1 sobre a Espanha)

.Pior juiz .................. Wilmar Roldán (anulou dois gols do México no jogo deste contra Camarões)

.Pior vexame ............ grande imprensa brasileira, por sua abordagem catastrofista sobre a Copa, desde a escolha do Brasil como sede, em 2007, danificando a imagem do País interna e externamente. O vexame se torna evidente agora, quando a Copa flui num clima excelente e os mais importantes veículos de comunicação do mundo passam a louvar a organização e a infraestrutura disponibilizadas pelo Brasil. O mais curioso, e sintomático, é o fato de a grande imprensa tupiniquim - Jornal Nacional à frente - vir a público para enfatizar a "mudança" na abordagem da Copa por parte da imprensa externa, como se a imprensa nacional nada tivesse a ver com a disseminação do pessimismo mundo afora.

DA SÉRIE OS RESSENTIDOS COM A COPA NO BRASIL


"Fausto Silva anda muito nervoso ultimamente. Perdeu muito do humor que o consagrou e de sua verve inteligente e debochada. Aderiu aos rabugentos do #nãovaiterCopa e, já que tem Copa, sim, tenta manter a bandeira do encrenqueiro, distribuindo, sem nenhum fair play, insultos ao evento esportivo. A delicada defesa de Honduras deve estar morrendo de inveja do novo estilo Faustão.

O que estará acontecendo com ele? Não confere a suspeita de que pesa no ex-gordo o ressentimento com os quilinhos a mais que ele, de uns tempos para cá, recuperou.

Não consta, tampouco, que Faustão esteja em momento de renovação de contrato, o que explicaria o seu alinhamento precavido com a agenda político-eleitoral do patrão bilionário. Na verdade, o cidadão Fausto Silva já declarou o voto na oposição. Faz sentido. A turma que faz plantão na sua lendária pizza semanal é a mesma do camarote vip que vaia e ofende.

Se o ex-cronista de campo perdeu de vez a esportiva é porque a vida profissional não lhe faculta mais goleadas no ibope. Fausto Silva devia é, apesar das pressões, relaxar.

A culpa não é dele nem de sua equipe. O culpado é o domingo, cada vez menos Domingão do Faustão. O domingo brasileiro vai pouco a pouco se libertando do cativeiro da tevê aberta. Há mais opções na própria tevê. Aquele exército de popozudas que vem esfregar o traseiro no rosto do espectador entorpecido tem seus dias contados.

Tem razão o Faustão em se irritar com a dobradinha Lula-Dilma. Os pobres ficaram economicamente menos pobres - e culturalmente menos indigentes. Azar de quem, como os autocratas dos auditórios, apostou no contrário."




(Nirlando Beirão, post "O ressentimento de Faustão com a Copa no Brasil", revista CartaCapital - aqui.
Nos velhos tempos, Fausto Silva foi repórter esportivo; regularmente, fazia trabalho de campo, entrevistando atletas futebolísticos, dirigentes de clubes e profissionais diversos. Tempos depois, mudança radical: passou a comandar o antológico "Perdidos na noite", na Band, excelente e descontraído programa de variedades. Há anos e anos na Globo, eis que o ora carrancudo Faustão se depara com uma Copa do Mundo no Brasil, evento que, muito ao contrário do caos anunciado, flui excelentemente, para desagrado do ex-repórter de campo. Daí - e dos abalos na audiência - o nervosismo. Ou não).

SOBRE QUEM MANDA NA INTERNET


Nova batalha pelo controle da internet

Por Thiago Domenici

A internet tem dono? Oficialmente, não. Sobretudo por seu aspecto descentralizado, a internet é constituída por muitas redes independentes interconectadas voluntariamente, o que dá a ela o caráter de “rede de redes”. Nesse emaranhado, cada uma é dona de si mesma e, ao integrar-se, se dispõe a contribuir para que o tráfego flua conforme os protocolos de roteamento estabelecidos previamente pelos organismos que administram a rede (ver, abaixo, “Quem dirige a internet”). Funciona como cidades que se interligam numa malha viária, sob um regime de leis de trânsito.

Demi Getschko, membro de “notório saber” do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), talvez a figura brasileira que mais entende do assunto, responsável pela primeira conexão em território nacional, costuma dizer em suas entrevistas que “ninguém controla a internet”. No entanto, os EUA são geralmente apontados como os mandachuvas da rede global de computadores. Isso se explica porque Washington exerce o controle de dois recursos importantíssimos do sistema: o dos “servidores-raiz” e o da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann, Corporação para Atribuição de Nomes e Números na Internet), uma entidade sem fins lucrativos com sede em Marina del Rey, no estado americano da Califórnia, subordinada ao Departamento de Comércio americano (ver “O que faz a Icann?”).

Pelo fato de a sede da Icann situar-se em território americano, qualquer conflito jurídico entre países envolvendo domínios de internet seria resolvido conforme a legislação da Califórnia. E o desejo do Brasil, como o da maioria dos países, incluindo aqueles integrantes da União Europeia (UE), é de que a Icann – dada sua importância – tenha um caráter mais independente e fique sediada em território “neutro”. O debate em torno dessa questão voltou recentemente à baila, segundo Fadi Chehadé, presidente da Icann, por conta das revelações de Edward Snowden, no ano passado, sobre a espionagem realizada pela Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, na sigla em inglês). “As revelações trouxeram a discussão sobre governança para o centro da agenda geopolítica. Precisamos ser intelectualmente honestos com isso”, disse Chehadé em entrevista ao diário Folha de S.Paulo.

Vários países desde então – entre os quais Brasil e Alemanha – passaram a pressionar os americanos por mudanças, o que inclui a gestão do Icann. Angela Merkel, primeira-ministra alemã, sugeriu, por exemplo, criar uma internet exclusivamente europeia. E a presidente Dilma Rousseff fez um discurso crítico na abertura da 68ªAssembleia Geral das Nações Unidas, realizada no ano passado.

Mas não é de agora que os países pedem mudanças em relação ao controle da internet pelos EUA. Já em 2003, durante a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, realizada em Genebra, a delegação brasileira defendeu que a internet não podia ser governada unilateralmente, posição que teve apoio da Argentina, dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e da UE (União Europeia).

Foi por solicitação do próprio Chehadé, que admite que o controle da internet é excessivamente “concentrado nos EUA” e no “mundo ocidental”, que o Brasil recebeu a Conferência Multissetorial Global sobre o Futuro da Governança da Rede (NetMundial), realizada em abril passado. Um mês antes, no entanto, os americanos surpreenderam a todos. “Vendo que nos últimos meses houve um problema em misturar administração de nome e domínio com espionagem, segurança e privacidade, os EUA sinalizaram o desejo de abrir mão do controle da Icann”, disse a Retrato do Brasil Hartmut Glaser, diretor do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), entidade civil sem fins lucrativos que desde dezembro de 2005 implementa as decisões e projetos do CGI.br. Cabe explicação: a governança dos recursos críticos (nomes de domínio e números de IP) e a governança relacionada a temas que geralmente são alvo de políticas públicas, como a privacidade, o acesso à infraestrutura e a conteúdos, a segurança, não se misturam, necessariamente. Nesse sentido, a gestão da Icann não tem a ver com a espionagem realizada pela NSA.

O Departamento Nacional de Administração de Telecomunicações e Informação dos EUA (NTIA, na sigla em inglês), vinculado ao Departamento de Comércio, alertou, porém, que só passará o bastão se for seguida uma série de regras preestabelecidas. Excluiu, por exemplo, que seja um novo governo a controlar a Icann ou mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da União Internacional de Telecomunicações (UIT), possibilidade apoiada por países como China e Rússia. A ideia é que a comunidade global de internet faça essa gestão. “A única solução é o modelo multissetorial”, disse Chehadé, que assegura que nenhuma parte, como os governos, por exemplo, tenha sozinha o controle da governança da rede. Esse modelo da participação equânime na tomada de decisões se assemelharia ao funcionamento do CGI.br, que tem esse caráter multistakeholder, ou de múltiplas partes interessadas, que permite a participação e a consideração de todos os atores que importam em um sistema – quer representem governos, setores da iniciativa privada ou da sociedade civil, incluindo setores técnicos e acadêmicos –, em bases igualitárias e por meio de um processo inclusivo.

Foi exatamente essa a visão que prevaleceu durante o NETMundial. As repercussões da decisão americana ainda não estão claras, uma vez que serão os EUA que estabelecerão as condições e as pautas dessa transição de poder nos próximos meses. “Como você faz um conjunto de regras legítimo que é verdadeiramente transnacional e, ao mesmo tempo, garante que ele seja legítimo nacionalmente?”, ponderou Chehadé.

Esse debate será aprofundado em setembro, na Turquia, durante o Fórum de Governança da Internet (IGF, na sigla em inglês), órgão da ONU que cuida do assunto. Entre os cinco pontos principais do documento apresentado no NetMundial, ficou estabelecido que a rede deve ser um espaço unificado e não fragmentado, com padrões comuns de comunicação e livre fluxo de informações. Na contramão dessa visão estão Rússia, Índia e Cuba, que defendem que a internet seja controlada pelos governos. A Rússia, inclusive, negou-se a assinar o documento. Cuba e Índia também discordaram dele abertamente. A China, que já declarou ser a favor do controle governamental em outros fóruns, não enviou representante ao evento.

O documento também alertou sobre o respeito aos direitos humanos na internet, ao afirmar que o que vale no mundo físico deve valer no virtual. Entre eles estão direito à privacidade e à livre associação com outras pessoas, liberdade de expressão, acesso às informações e desenvolvimento socioeconômico. O fortalecimento do IGF também foi lembrado, assim como a internacionalização da Icann e sua abertura à participação de mais interessados. A Icann disse em nota que pretende fazer a transição antes da renovação do contrato com os americanos, que se encerra em setembro do ano que vem.

Segundo Glaser, não existe registro de que o Departamento de Comércio tenha interferido nas funções da Icann. Por isso ele afirma que os debates que vigoram são de “ordem totalmente política, e não técnica”. “O que nós queremos é tirar essa supervisão de um único governo, que é quem, no fim, carimba as decisões finais dessa gestão.”

Para compreender a origem do contrato dos EUA com a Icann é preciso voltar no tempo. Por razões históricas, o governo americano tem um papel fundamental na criação da internet, pois foi quem fundou sua estrutura inicial, na década de 1960. Somente no começo dos anos 1990 a rede tomou a forma que tem atualmente, ou seja, aberta e descentralizada. Antes, era um projeto com fins de defesa e que aos poucos se tornou uma ferramenta para uso acadêmico – ou seja, a “pré-internet” era uma forma de comunicação entre diferentes universidades e centros de pesquisa por meio de computadores.

A base dessa rede era uma infraestrutura física gerida pela Fundação Nacional de Ciências americana. O processo de privatização dessa rede física, inicialmente para quatro empresas – Sprint, MFS, Ameritech e Pacific Bell – se deu nos anos 1990, período em que a “comunidade técnica” associada a algumas grandes empresas criou um movimento com o objetivo de estabelecer uma entidade responsável pelo sistema de endereçamento da rede. Nesse ponto é que nasceu o segundo braço da “privatização”, culminando com a criação da Icann em 1998, durante o governo do presidente Bill Clinton. Antes da Icann, quem cumpria esse papel era a Internet Assignet Numbers Authority (Iana, Autoridade para a Atribuição de Números na Internet), a qual, desde 1986, é o braço dessa operação mantida sob a tutela do Departamento de Comércio. Por meio de um contrato renovável a cada ano, a Iana passou à administração da Icann, papel que esta exerce há 16 anos. Glaser explica que a mudança sinalizada em março pelos EUA se refere, principalmente, às funções da Iana, que é, segundo ele, “o coração da internet”, cuja operação técnica, garantiu a Icann em nota, não deve ser alterada.

Atualmente, boa parte dos mais de 2,8 bilhões de usuários de internet no mundo vive fora das fronteiras dos EUA e uma parte crescente do tráfego já não passa pelos cabos americanos. Mas não se pode subestimar a força dos EUA mesmo num momento de grande desconfiança. Dan Schiller, professor de comunicação na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign e autor de How to think about information, diz em artigo que os padrões técnicos da internet também foram estabelecidos por duas outras agências dos EUA, a Internet Engineering Task Force (Ietf) e a Internet Architecture Board (IAB), elas próprias integradas a outra organização sem fins lucrativos, a Internet Society. “Em vista de sua composição e de seu financiamento, não é surpreendente que essas organizações deem mais atenção aos interesses dos EUA do que às solicitações dos usuários”, diz Schiller. Na opinião dele, a atual transição para a “computação em nuvem” (cloud computing), cujos principais atores são americanos, deve aumentar ainda mais a dependência da rede em relação aos EUA.

Seja no plano militar ou comercial, esse desequilíbrio estrutural do controle da internet dá vantagem aos EUA, deixando outros países com pouca margem para regular, apertar ou afrouxar o sistema de acordo com seus próprios interesses. Nesse sentido, a revista britânica The Economist pode ter razão. Ao falar dos debates sobre as mudanças da governança da rede, a publicação citou a obra Il Gattopardo, do escritor italiano Giuseppe Tomaso di Lampedusa: “Se queremos que tudo fique como está, é preciso mudar tudo”.

*****

Quem dirige a internet

Além da Icann, a gestão da internet é conduzida por uma rede de grupos independentes e interconectados. Abaixo, um resumo de quem faz o que nesse sistema.

- Iana (InternetAssignedNumbersAuthority) – Vinculada à Icann, é a responsável técnica pela distribuição de endereços de IP e pela gestão do protocolo DNS.

- Iab (Internet Architecture Board) – É uma junta de arquitetura da rede que supervisiona os trabalhos da Ietf e Irtf.

- Ietf (Internet Engineering Task Force) – Grupo de trabalho de engenharia da internet. Desenvolve os padrões de comunicação da rede, como o TCP/IP, e garante que continuará evoluindo conforme a necessidade.

- Irtf (Internet Research Task Force) – Grupo de trabalho de engenharia da internet. Trata do estudo e aprimoramento dos protocolos da internet, aplicações, arquitetura e tecnologia.

- Igf (InternetGovernance Forum) – O Fórum de Governança da Internet é formado por representantes de múltiplos interesses, os quais debatem os problemas relacionados à gestão da rede. Foi criado pela ONU em 2006, após esse tema ser sugerido na Cúpula Mundial da Sociedade da Informação em 2003, em Genebra (Suíça), e em 2005, em Túnis (Tunísia).

- Gac (Governmental Advisory Committee) – Comitê governamental que se reúne em paralelo a todas as reuniões da Icann (três vezes porano ) e tem participação de representantes de cerca de 50 países.

- Isoc (Internet Society) – Sua missão é promover o desenvolvimento aberto, a evolução e o uso da internet para o benefício de todos os povos do mundo.

- W3C (World Wide Web Consortium) – Tem por objetivo criar padrões de internet que permitam uma plataforma web aberta. Por exemplo, para se concentrar em problemas de acessibilidade, internacionalização e soluções web móveis.

- RIR (Regional Internet Registry) – Organização que supervisiona a atribuição e o registro dos recursos de números internet em uma determinada região do mundo. Atualmente, existem cinco RIRs em operação: ARIN: América do Norte e partes do Caribe; IPE NCC: Europa, Oriente Médio e Ásia Central; APNIC: Ásia e Pacífico; LACNIC: América Latina e partes do Caribe; e AfriNIC: África. (Fonte: aqui).

PIB DOS EUA TEM A MAIOR QUEDA TRIMESTRAL DESDE A CRISE DE 2008


Por Marco Antonio Moreno

O Departamento de Comércio indicou quarta-feira que o produto interno bruto caiu a uma taxa anual de -2,9 por cento, em lugar de -1,0 por cento como tinha sido informado em maio, e de 0,1 por cento estimado em abril.

Conquanto se tenha apontado que os problemas da economia derivam de um inverno excepcionalmente frio e de uma seca de longa data que assola Estados como Texas ou Califórnia, onde se recupera a água dos duches e sanitários para voltar a usar, a magnitude da queda sugere muitos outros fatores para além dos relacionados com o clima.

Os Estados Unidos enfrentam o que temos chamado de uma estagnação de longo prazo, pela debilidade do seu setor industrial, pelas enormes bolsas de desemprego e pela existência majoritária do chamado "trabalho precário", fantasmas que também existem na Europa com os débeis sinais de crescimento e a nula recuperação do emprego. Ainda que os governos digam o contrário e lancem números otimistas, o emprego nunca mais voltará aos níveis existentes de antes da crise de 2008.

Para os Estados Unidos, o crescimento baixou 3 pontos percentuais desde a primeira estimativa que o governo fez em abril, quando sustentou que a economia teria uma expansão de 0,1 por cento. A diferença entre a segunda e a terceira estimativa foi a maior nos registros que remontam a 1976. Os dados do PIB conhecidos nesta quarta-feira baseiam-se nos registros mais completos disponíveis e diferenciam-se dos anteriores fundamentalmente nos dados do consumo. Como assinalamos anteriormente, o investimento privado teve uma queda de 11,7 por cento e o PIB tinha sido impulsionado pelos dados do consumo privado. Tinha-se estimado anteriormente que o consumo teria uma subida de 3,1 por cento, mas estabeleceu-se agora em 1 por cento. Se entendemos que o consumo representa 70 por cento do PIB dos Estados Unidos, podemos compreender por que a queda do PIB foi tão demolidora.

Os efeitos das alterações climáticas

Estima-se que o mau tempo pôde provocar a redução do crescimento até -1,5 por cento no primeiro trimestre. Os efeitos das alterações climáticas, que os Estados Unidos sempre negaram, começam a passar a fatura. A procura de transporte, maquinaria, computadores e produtos eletrônicos sofreu uma queda de 17 por cento. Os pedidos destes produtos, que vão desde torradeiras de pão a aeronaves, e que estão destinados a durar três anos ou mais, caíram pela primeira vez em três meses. Por sua vez, as exportações reduziram-se numa taxa de 8,9 por cento, em lugar de um ritmo de 6,0 por cento, o que resulta num déficit comercial que cortou 1,53 pontos percentuais ao crescimento do PIB. O débil crescimento das exportações está relacionado com as gélidas temperaturas durante o inverno.

Estes dados deitam por terra a recuperação dos Estados Unidos e da economia global. A economia encontra-se repleta de bolhas especulativas e os leitores não devem surpreender-se que até o Banco Central Europeu e Wolfgang Schauble comecem a falar de novas bolhas imobiliárias à beira de estourar, como já o fez o Fundo Monetário Internacional seguindo o que temos apontado em numerosos artigos.

A economia global encontra-se nas proximidades de um círculo vicioso e será sacudida por um novo tsunami financeiro que desta vez não poderá contar com os apoios dos governos e das instituições que deveriam vigiar a estabilidade do sistema. Todas as instituições monetário-financeiras como o FMI, o Banco Mundial ou os bancos centrais não têm feito mais que cuidar dos interesses da banca, saqueando as poupanças e a riqueza dos contribuintes, expropriando o direito ao trabalho, esgotando os recursos do planeta e transferindo riqueza dos mais pobres para os mais ricos. A economia aproxima-se de uma nova recaída e os dados desta quarta-feira podem ser o começo do declínio. (Fonte: aqui).

...............
Sem dúvida, a queda de 2,9% na taxa anualizada no PIB norte-americano foi brutal. Mas, dada a baixíssima repercussão na mídia dos EUA, parece ter havido 'compreensão' em face do desastre; os sites de cartuns, por exemplo, não mostram desenhos irônicos e galhofeiros de artistas gráficos da terra de Tio Sam malhando o 'pibinho', tampouco artigos catastrofistas assinados por analistas econômicos, ao contrário do que se vê no Brasil, onde até mesmo a elevação de 2,5% do PIB observada em 2013 - elevação percentual que coloca o país entre os cinco melhores desempenhos mundiais no período - foi malhada ou solenemente ignorada.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

AMPLIADA A ATUAÇÃO DA PETROBRAS

              Petrobras passou a ser exploradora exclusiva do megacampo de Búzios
                  (e das áreas de Tupi Nordeste, Florim e entorno de Iara, a ele agregadas).

Maior que Libra, cessão onerosa é só da Petrobras. É o horror para o mercado

Por Fernando Brito

Em plena Copa, uma notícia passa sem o impacto que deveria ter na mídia.

Talvez porque seja uma das melhores notícias que se pudesse dar.

Como este blog havia informado em novembro do ano passado, o Governo entregou à Petrobras, como estava autorizado pelas leis que aprovaram o regime de partilha, aprovadas no final do Governo Lula, quatro das seis áreas de cessão onerosa utilizadas como garantia no processo de capitalização da empresa.

Concentradas no campo de Franco, agora chamado de Búzios, tem entre 10 e 14 bilhões de barris de petróleo recuperáveis, quase o mesmo que as reservas provadas do nosso país.  Algo como 25% mais do que Libra, o maior campo de petróleo descoberto no mundo neste milênio.

Além de Búzios, foram entregues as áreas do entorno de Iara, Florim e Nordeste de Tupi, que provavelmente serão  unitizados (reunidos, em linguagem do setor) em uma só área de exploração.

Fora as receitas de impostos, só de lucro líquido para o país – que fica com três quartos do lucro, cabendo um quarto à Petrobras – o campo renderá à educação é a saúde brasileiras algo como 700 bilhões de reais, a preços de hoje.

É uma área capaz de, ao longo de 30 anos de produção, permitir uma extração média de 1,3 milhão de barris diários, ou metade do que tudo o que é produzido hoje no país.

E, curiosamente, a reação do mercado, na negociação das ações da Petrobras, derrubou o valor dos papéis da empresa.

É que isso irá, nos próximos anos, fazer a Petrobras ter de investir – e quase tudo dentro do Brasil – cerca de R$ 500 bilhões.

Ou, para os que gostam de comparações, 20 vezes tudo o que se chama de “gastos” com a Copa. Ou 120 vezes o valor dos empréstimos do BNDES para a construção de estádios.

São pelo menos 20 navios-plataforma, dezenas de sondas, centenas de barcos de apoio e instalações em terra.

Uma imensa máquina de distribuir receita, impostos, indústrias e serviços da cadeia de suprimento necessária.

Aos que estranharam a posição deste blog quando se tratou de leiloar o campo de Libra, à procura de parceiros capazes de injetar capital na exploração do campo de Libra, aí está a resposta do por quê.

Era preciso “guardar” a capacidade da Petrobras de explorar estes campos ainda maiores.

E fazê-lo de forma a proteger o patrimônio nacional das tentativas, que não terminam, de entregar essa riqueza ao capital estrangeiro.

No final de 2016, início de 2017, Búzios produzirá seu primeiro óleo comercial e, nos dois anos seguintes, sua produção vai começar a pagar parte deste volume de investimentos.

Em um período de sete ou oito anos depois disso, a extração alcançará o limite de 5 bilhões de barris contratados, em condições mais favoráveis à Petrobras, pois passam a viger as regras mais pesadas acertadas hoje com o Governo.

Até lá, este dinheiro vai remunerar o crescimento da participação governamental no aumento de capital da empresa, o que tornou possível recuperar parte do pedaço da Petrobras entregue por Fernando Henrique Cardoso, ao vender suas ações na bolsa de Nova York.

Hoje, este assunto se resumirá em pequenas e ácidas matérias nas páginas de economia dos jornais.

Em 20 anos, talvez, meus netos aprendam nos livros de escola sobre esta segunda independência – a econômica – do Brasil. (Fonte: aqui).

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Clique aqui para ler nova manifestação de Fernando Brito sobre o assunto.

O MAIOR LEGADO DA COPA


"Faz duas semanas, deixei um país em guerra, afundado nas mais apocalípticas previsões, e desembarquei agora noutro, na volta, bem diferente, sem ter saído do Brasil. Durante meses, fomos submetidos a um massacre midiático sem precedentes, anunciando o caos na Copa do Fim do Mundo.

Fomos retratados como um povo de vagabundos, incompetentes, imprestáveis, corruptos, incapazes de organizar um evento deste porte. Sim, eu sei, não devemos confundir governo com Nação. Eles também sabem, mas, no afã de desgastar o governo da presidente Dilma Rousseff, acabaram esculhambando a nossa imagem no mundo todo, confundindo Jesus com Genésio, jogando sempre no popular quanto pior, melhor.

Estádios e aeroportos não ficariam prontos ou desabariam, o acesso aos jogos seria inviável, ninguém se sentiria seguro nas cidades-sede ocupadas por vândalos e marginais. Apenas três dias após o início da Copa, o New York Times, aquele jornalão americano que não pode ser chamado de petista chapa-branca, tirou um sarro da nossa mídia ao reproduzir as previsões negativas que ela fazia nas manchetes até a véspera. Certamente, muitos torcedores-turistas que para cá viriam ficaram com medo e desistiram. Quem vai pagar por este prejuízo provocado pelo terrorismo midiático?

Agora, que tudo é festa, e o mundo celebra a mais bela Copa do Mundo das últimos décadas, com tudo funcionando e nenhuma desgraça até o momento em que escrevo, só querem faturar com o sucesso alheio e nos ameaçam com o tal do 'legado'. Depois de jogar contra o tempo todo, querem dizer que, após a última partida, nada restará de bom para os brasileiros aproveitarem o investimento feito. Como assim? Vai ser tudo implodido?

A canalhice não tem limites, como se fôssemos todos idiotas sem memória e já tenhamos esquecido tudo o que eles falaram e escreveram desde que o Brasil foi escolhido, em 2007, para sediar o Mundial da Fifa. Pois aconteceu tudo ao contrário do que previam e ninguém veio a público até agora para pedir desculpas.

Como vivem em outro mundo, distantes da vida real do dia a dia do brasileiro, jornalistas donos da verdade e do saber não contaram com a incrível capacidade deste povo de superar dificuldades, dar a volta por cima, na raça e no improviso, para cumprir a palavra empenhada.

Para alcançar seus mal disfarçados objetivos políticos e eleitorais, após três derrotas seguidas, os antigos 'formadores de opinião' abrigados no Instituto Millenium resolveram partir para o vale tudo, e quebraram a cara.

Qualquer que seja o resultado final dentro do campo, esta gente sombria e triste já perdeu, e a força do povo brasileiro ganhou mais uma vez. Este é maior legado da Copa, a grande confraternização mundial que tomou conta das ruas, resgatando a nossa autoestima, a alegria e a cordialidade, em lugar das 'manifestações pacíficas' esperadas pelos black blocs da mídia para alimentar o baixo astral e melar a festa. Pois tem muito gringo por aí que já não quer mais nem voltar para seu país. Poderiam trocar com os nativos que não gostam daqui.

Que tal? (...)."



(Ricardo Kotscho, em seu blog, post intitulado "O maior legado da Copa é a força do povo").