segunda-feira, 8 de julho de 2019

ECOS DA VENEZUELA: A LAVA JATO É UMA ARTICULAÇÃO INTERNACIONAL

O que mais de estapafúrdio virá à tona? O que antes poderia ser classificado de ato inominável, insidioso, hediondo, hoje virou algo trivial, em que não se vê 'nada de mais', para usar o chavão que caiu nas graças do senhor ex-juiz da operação Lava Jato. Convindo notar que remanesceriam centenas e centenas de mensagens de texto e cerca de 2.000 áudios, dos quais alguns (ou serão todos?) estariam sendo periciados. No universo do futebol, costuma-se dizer, sobre o goleiro sob assédio, exausto diante de todos os malabarismos que lhe estão sendo impostos pela pressão dos adversários, que "está de barba crescendo" ("o sufoco foi terrível, de fazer crescer a barba!"). O que virá dos áudios? Uma coisa, já cheia de gravidade, pode ser o texto comprometedor, outra coisa é o mesmo conteúdo, transmitido mediante mensagem de voz. Pode ser atroz.
(Arq.)
Caso da Venezuela: A Lava Jato é uma articulação internacional
Por Gilberto Maringoni
Sob vários aspectos, as revelações feitas pelo Intercept neste domingo, 7, são as mais graves entre todas as trocas de mensagens que vieram à luz até aqui. Paradoxalmente, são as de menor impacto público.
O que desvendam tais diálogos virtuais? Que – ao buscar vazar delações sobre a ação da Odebrecht na Venezuela – a Lava Jato transformou-se numa organização de âmbito internacional, capaz de manipular e influenciar cenários políticos além fronteiras. E exibem, pela segunda vez, a cumplicidade de Fernando Henrique Cardoso com o grupo baseado em Curitiba.
A INTERVENÇÃO DE DELTAN DALLAGNOL, em 6 de agosto de 2017, expressa o que estava em jogo:
“Deltan – (…) Não vejo problema de soberania. E há justificativa para fazer qto à Venezuela e não outros pq destituiu a procuradora geral e é ditadura. (…) O propósito de priorizar seria contribuir com a luta de um povo contra a injustiça, revelando fatos e mostrando que se não há responsabilização lá é pq lá há repressão”.
O procurador evangélico demonstra saber dos problemas diplomáticos que tais decisões – vazar as informações – poderiam acarretar. Mas as justifica para “contribuir com a luta de um povo contra a injustiça”. Quem delegou a Dallagnol e seus comparsas a prerrogativa de agir como um templário togado ao arrepio da Constituição Federal? A Carta, como se sabe define o seguinte sobre o tema:
“Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
(…)
III – autodeterminação dos povos;
IV – não-intervenção”.
Os milicianos das araucárias não desconhecem tais cláusulas, que se originam nas formulações do Barão do Rio Branco, há mais de um século. A evidência está no seguinte diálogo de 5 de agosto de 2017, revelado pelo Intercept:
[procurador] Paulo [Galvão]– (…) Vejam que uma guerra civil lá é possível e qq ação nossa pode levar a mais convulsão social e mais mortes (ainda que justa ou correta a ação). Lá não é Brasil.(…) Não estou dizendo que sim ou que não, apenas que precisa ser refletido
Roberson [Pozzobon] – Caraaaaaca
Orlando [Martello] – (…) Não dá para abrir simplesmente o que temos. (…) Não dá para arriscar um descumprimento de acordo, inclusive com consequências cíveis de nossa parte, bem como da União. (…) A solução que vejo é fazer uma comunicação espontânea para o próprio país. No caminho isso certamente vazará em algum lugar, sem qq participação nossa. Isso posso fazer de imediato”.
A LAVA JATO PASSA a realizar – tacitamente ou não – um trabalho em linha com quem busca desestabilizar o governo venezuelano. Em português claro,soma-se à conduta do departamento de Estado dos EUA e aos serviços de inteligência daquele país. Repetindo: tacitamente ou não.
De forma explícita, trama-se ali uma diplomacia paralela, violando frontalmente a Constituição. A hesitação é tanta, diante da gravidade da iniciativa, que, a dada altura, os membros da força tarefa consultam o ex-presidente FHC. A tarefa cabe a Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil:
“Bruno – Estou num debate sobre Venezuela na Fundação FHC e queria comentar que a TI está defendendo, junto à FTLJ, que se abram processos extraterritoriais contra autoridades venezuelanas. (…) FHC veio conversar comigo no final e disse que é uma boa ideia”.
A TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL é uma espécie de UDN global, criada em 1993, logo após a queda dos regimes do Leste Europeu, em pleno período de unipolaridade estadunidense. A ONG tem como atividade-fim o combate à corrupção, sem levar em conta – aparentemente – contextos e condicionantes políticos. Em seu site, ela cita sua parceira preferencial por aqui:
“O Brasil assistiu nos últimos anos àquela que vem sendo provavelmente a mais impressionante onda de investigações e denúncias envolvendo corrupção na história do país. A operação Lava Jato ganhou manchetes no mundo inteiro e virou até marchinha de Carnaval (o hit de 2016 “Ai, meu Deus, me dei mal / Bateu à minha porta o japonês da Federal”). Bilhões de reais foram recuperados”.
As investigações sobre Sergio Moro devem ganhar, a partir dessas revelações, novos raios de ação. Não estamos apenas diante de uma ação que trabalhou em linha com setores da direita – mídia e capital financeiro – e da extrema-direita brasileiras. A Lava Jato é uma organização com ramificações internacionais e sem escrúpulo algum em suas iniciativas.
A Lava Jato mostra-se cada vez mais como o porão do bolsonarismo e ferramenta importante na consolidação de uma articulação reacionária sem limites. Não estamos diante de amadores e nem de caipiras deslumbrados.  -  (Aqui).

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